Por Laryssa Borges, na VEJA.com:
Alvejado por críticas envolvendo a “importação” de médicos estrangeiros, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, saiu em defesa, nesta sexta-feira, do programa do governo federal que vai trazer os profissionais do exterior — incluindo brasileiros formados em outros países. Também disse que, mesmo diante das pressões de entidades de classe e do Ministério Público do Trabalho, irá “até o fim” para garantir a viabilidade do projeto.
“Vamos até o fim. O que nos move é levar médicos para onde não existem médicos no país. Eu sei a diferença entre um médico perto do paciente, perto da comunidade. Isso faz a diferença em qualquer situação”, disse o ministro ao recepcionar os primeiros estrangeiros que chegaram em Brasília para participar do Programa Mais Médicos.
Os 244 profissionais formados no exterior selecionados na primeira fase do Mais Médicos começaram a chegar ao Brasil nesta sexta-feira. No grupo, 145 são estrangeiros. No início da próxima semana eles começam um curso sobre saúde pública brasileira e língua portuguesa antes de serem enviados aos municípios onde vão trabalhar. A ideia é que todos os 1 096 médicos com diplomas do Brasil e os 244 com diplomas estrangeiros sejam alocados em 516 municípios e 15 distritos sanitários indígenas. Em Brasília, os profissionais desembarcaram no aeroporto internacional Juscelino Kubitscheck às 15h17, em um voo da companhia aérea portuguesa TAP.
“Ouvir as pessoas”
Para o ministro, não procedem as críticas de que os profissionais seriam mal preparados — embora o governo tenha preferido não provar objetivamente isto, ao liberar os médicos estrangeiros da prova de reconhecimento do diploma, conhecida como Revalida. “Todos têm experiência em atuar em áreas rurais ou em atenção básica e valorizam o que é mais importante em um médico: o contato humano, o atendimento, ouvir as pessoas”, afirmou, como se estivesse se referindo a psicólogos e não a médicos.
Embora o Programa Mais Médicos tenha tido baixíssima adesão — das 15 450 vagas ofertadas, houve apenas 1 096 inscritos — o governo federal já lançou o edital para a segunda fase do projeto, esperando a adesão de novos municípios e de médicos brasileiros e estrangeiros.
Cubanos
O Ministério da Saúde, que havia declarado publicamente a desistência de “importar” médicos cubanos, usou o fracasso do programa como desculpa para recorrer a uma parceria pouco transparente com o governo de Raúl Castro, com intermediação ainda mais nebulosa da Organização Panamericana de Saúde (Opas), para trazer os profissionais de Cuba ao país. Parte dos cubanos desembarca no Brasil neste final de semana em aviões da Força Aérea Brasileira. Todos os profissionais estrangeiros e brasileiros com diploma do exterior ficarão hospedados em alojamentos militares, longe dos olhos do público.
Questionado sobre o caso específico de médicos cubanos, que terão parte dos recursos do programa destinados a financiar o governo de Raúl Castro, o ministro Alexandre Padilha atribuiu as críticas a um alegado e imaginário “preconceito” contra os profissionais. “Não admitimos e não faz parte da cultura brasileira ter preconceito em relação a qualquer país ou a qualquer povo. A medicina de Cuba é reconhecida, principalmente na atenção básica. O Ministério da Saúde vai acompanhar de perto as condições individuais de cada médico para poder viver, atuar tranquilamente, sem ter preocupações”, explicou.
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