terça-feira, 22 de novembro de 2011

Filha de desaparecido reage a veto militar que a impediu de discursar


O Globo


Vera Paiva, filha do deputado Rubens Paiva - que desapareceu durante a ditadura militar - publicou na segunda-feira na internet o discurso que faria semana passada no Palácio do Planalto durante a solenidade em que a presidente Dilma Rousseff sancionou a Comissão da Verdade e lei que regula o acesso às informações públicas.

Sua fala acabou sendo abortada para não melindrar os militares. "Assim começa muito mal", diz ela ao comentar o veto militar, acrescentando: "Agora entendo o pedido de desculpas da Ministra (da Secretaria de Direitos Humanos) Maria do Rosário". Vera Paiva diz ter sido apenas avisada de que a solenidade estava atrasada e que, por isso, era preciso acelerá-la.

No discurso não proferido, ela lembra da morte do pai e avisa: "Se a Comissão da Verdade não tiver autonomia e soberania para investigar, e uma grande equipe que a auxilie em seu trabalho, estaremos consentindo. Consentindo, quero ressaltar, seremos cúmplices do sofrimento de milhares de famílias ainda afetadas por essa herança de horror que agora não está apoiada em leis de exceção, mas segue inquestionada nos fatos".

Em outro trecho, ela afirma que o resgate da verdade e da memória não é revanchismo. Também pede que não haja impunidade para torturadores e cita o exemplo de outros países da América Latina, como Chile e Argentina, que julgaram militares do período ditatorial.

Também lembra do regime do apartheid, dizendo que "a África do Sul deu um exemplo magnífico de como enfrentar a verdade e resgatar a memória".

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