quarta-feira, 23 de março de 2011

Os petralhas querem tomar de assalto a Vale do Rio Doce

Vale estatal


A conversa entre o Bradesco e o ministro da Fazenda, Guido Mantega, com o pedido para retirar o presidente da Vale é um dos mais indecorosos sinais de retrocesso da economia brasileira.

O banco certamente vai ceder, porque o Bradesco não é lá de querer briga com governo. O espantoso é o sinal dado de estatização e a interferência do ministro da Fazenda.

Roger Agnelli é um executivo com defeitos e qualidades, que está há muito tempo no cargo, e se os acionistas quiserem podem e devem tirá-lo; nenhum problema. O que assusta é a forma, o motivo e os objetivos da ação de degola.

O jeito certo de fazer isso é na reunião do conselho da Valepar, que é o grupo controlador da Vale. Lá, o governo como um dos acionistas, através do BNDES, pode propor a alteração, e os fundos de pensão, também.

Uma conversa do ministro da Fazenda pedindo a cabeça do principal executivo de uma empresa privada é absurdo. O Tesouro tem golden share, mas essa ação especial tem função específica e não é para administrar a companhia.

A Vale tem estatuto, tem reuniões programadas dos seus acionistas, e seus executivos têm mandato e planos a cumprir. Mesmo com os votos do banco estatal e dos fundos de pensão não se consegue a proporção de dois terços necessária para interromper um mandato no meio e aprovar outra diretoria.

O Bradesco tem percentual suficiente para bloquear a ação. Por isso é que houve a conversa entre Mantega e Lázaro Brandão, do Bradesco. Mas ela é inconveniente.

Ministro da Fazenda não tem essa função; o local é inadequado porque tem que ser discutido pela assembléia de acionistas; o motivo é indecoroso: o governo vem tentando capturar a Vale para a roda das nomeações políticas. É uma reestatização, na prática.

Todo mundo acompanhou o passo a passo dessa intervenção governamental porque ela foi explícita; feita de críticas e reclamações públicas.

O pretexto foi que o ex-presidente Lula não gostou quando pediu que a Vale construísse siderúrgicas no Brasil. A empresa não atendeu inicialmente às pressões. Há razões empresariais. Hoje, o Brasil tem capacidade ociosa em aço; em 2009, chegou a desligar seis altos-fornos.

Ao mesmo tempo, há mercado abundante no mundo para matérias-primas como o minério de ferro e outros minérios produzidos pela Vale.

Roger Agnelli já foi tratado com tapete vermelho no governo, depois passou a ser alvo das reclamações públicas do ex-presidente. E começou o disse-me-disse. Isso atrapalha a companhia. Essa intervenção, se for consumada, vai mostrar que a empresa tem um gravíssimo problema de governança, já que voltará na prática a ser estatal.
 
Por Miriam Leitão

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