quarta-feira, 30 de março de 2011

Políticos e autoridades abusam de contradições nas declarações sobre a morte do mineiro José Alencar

Ucho.info

Na enxurrada de depoimentos de autoridades sobre a morte de José Alencar Gomes da Silva, ex-vice-presidente da República que durante mais de uma década lutou bravamente contra um câncer abdominal, não faltaram declarações desconexas ou que nem mesmo em sonho traduzem a realidade dos fatos.

Na manhã desta quarta-feira (30), na Base Aérea de Brasília, o ministro Carlos Ayres Britto, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal, disse, entre tantas coisas, que José Alencar “nunca foi hostil à Justiça”.

Poeta com todas as letras e dono de lampejos de citações barrocas, Ayres Britto, homem letrado que é, por certo deve conhecer o significado da palavra “hostil”. De acordo com a versão eletrônica do dicionário Aulete, “hostil” significa, em primeira definição, “que demonstra ou exprime oposição, rejeição”.

Contrariando as emocionadas palavras do ministro Carlos Ayres Britto, o ex-vice-presidente da República foi, sim, hostil à Justiça ao se recusar a fazer um exame de DNA, determinado pelo juiz no rastro do processo de investigação de paternidade que lhe movia Rosemary de Morais, sua suposta filha. Diante da negativa, a Justiça determinou que a paternidade fosse imediatamente reconhecida, algo que José Alencar mais uma vez se recusou a fazer. Traduzindo para o bom e velho português, Alencar deixou a vida terrena sendo hostil à Justiça brasileira.

Outro político que abusou da incoerência ao falar de José Alencar foi o presidente do Senado Federal, José Sarney (PMDB-AP). Conhecedor do significado de cada vernáculo que balbucia, afinal é integrante da Academia Brasileira de Letras, Sarney falou em consternação ao falar da morte do ex-vice-presidente da República. Mas consternação, que segundo o Aulete significa “grande tristeza”, foi a única coisa que Sarney não sentiu nos últimos 50 anos diante do caos que assola o povo do Maranhão, o segundo mais miserável estado brasileiro.

“Ele foi um gladiador pela vida e não só mostrou a sua luta contra a doença, mas deu a todos os brasileiros que sofrem o exemplo de que a gente nunca deve se submeter. Ele jamais baixou a cabeça diante da morte”, disse José Sarney ao falar sobre outro José, o Alencar, na manhã desta quarta-feira.

No momento, o presidente do Senado Federal precisa jogar para a plateia política, mas “gladiador pela vida” é, de fato, cada paciente que não encontra no Maranhão uma rede de saúde pública com condições mínimas de atendimento, como acontece há décadas, o que obriga os doentes a enfrentarem uma longa viagem, sob sol causticante, até Teresina, capital do Piauí. Sempre lembrando que o Maranhão é governado por Roseana Sarney, filha de José “Marimbondos de Fogo” Sarney, que sucedeu Vitorino Freire no comando do feudo político em que se transformou a terra do arroz com cuxá.

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