domingo, 22 de agosto de 2010

Rio acorda no sábado para a realidade da violência do tráfico

Mirian Leitão

De repente, do nada começa um conflito no Rio. A manhã desse sábado não podia ser pior. Bandidos que iam do Vidigal à Rocinha com armamento pesado cruzam com a Polícia Militar e começa tiroteio, os bandidos invadem o hotel Intercontinental e fazem refem, Uma mulher morre. Os moradores de São Conrado assistiram tudo das janelas, alguns filmaram e estão dando os detalhes aos jornalistas. Os bandidos estavam em tres vans, cinco motos. Isso é o que está sendo divulgado pela imprensa. Os moradores foram mais rápidos e na midia social começaram a dar as informações mais cedo.

O fato mostra que por mais méritos que tenham as UPPs, nas grandes favelas os bandidos ainda estão bem instalados, eles ainda circulam pela cidade com armamento pesado, as obras do PAC acontecem ao lado do tráfico de drogas. Eu vi isso no Alemão recentemente: adolescentes armados, bancas de venda de drogas, ao lado de obras do PAC. Só aconteceu o confronto porque por acaso eles cruzaram com a Polícia. Os bandidos circulam com armas pesadas. O Rio continua refém dos traficantes de drogas.

A notícia vai circular mundo, evidentemente, e haverá a conclusão de sempre: o risco de fazer grandes eventos no Rio, como a Copa e as Olimpíadas. Mas o mais importante é analisar a política de segurança do país, tema que tem sido neglicenciado na campanha, junto com tantos outros. O que o especialista Luiz Eduardo Soares disse no twitter @luizeduardosoar é que as UPPs são bom projeto, mas não tem escala, nem substituem política de segurança no Rio de Janeiro, que exige revolução nas polícias e foco nas armas.

Uma mulher, mãe de um dos bandidos, deu um depoimento dramático. Ela estava na Igreja, ficou sabendo de tudo, foi correndo para lá, conseguiu falar com o filho e pediu que ele se entregasse.

-Eu sou mãe, amo meu filho. Criei ele direitinho. Eu trabalho há 30 anos numa casa na Gávea. Pus meu filho na escola. Ele estudou. Mas aconteceu isso.

Ou seja, ela lutou como pode para educar o filho, mas ele foi cooptado pelos traficantes. Essa é a maior tragédia. A das familias pobres que têm que conviver com os bandidos nas favelas e acabam sendo oprimidas pelo tráfico.

Não houve pacificação, há apenas batalhas parciais vencidas. As UPPs ganharam essas batalhas, mas a guerra ainda está sendo travada contra o tráfico de drogas e de armas. É para essa verdade que o Rio acorda nessa manhã de sábado.

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