segunda-feira, 20 de agosto de 2018

Bolsonaro prova: Trump não é de nada; mostra que macho que é macho não come o mel, mas chupa a abelha: “mito” quer romper com a ONU



A Jair Bolsonaro, candidato do PSL à Presidência da República, já não basta mais emular Donald Trump. Apenas emparelhar-se com o presidente dos EUA parece ambição que não mais sossega a sua vaidade. É preciso superar os rompantes daquele que, sem dúvida, serve de modelo ao presidenciável brasileiro chamado de “mito” por seus seguidores — apelido que, até agora, não encontra explicação nos fatos. Vamos ver.

No dia 19 de junho, os EUA retiraram-se do Conselho de Direitos Humanos da ONU, acusando-o de “hipócrita”.

Neste sábado, Bolsonaro demonstra que Trump não é de nada e que macho que é macho não come mel, mas chupa a abelha. Depois de participar da solenidade de formatura de cadetes da Academia Militar das Agulhas Negras, em Resende (RJ), onde ele próprio estudou, deixou clara a intenção de levar o Brasil a uma situação realmente singular no mundo. Seriamos o único país do planeta, entre os 193, reconhecidos pelas Nações Unidas, a não mais integrar este, digamos, clube mundial.

Bolsonaro prometeu:

“Se eu for presidente, eu saio da ONU. Não serve pra nada essa instituição. Sim, saio fora, não serve pra nada a ONU. É um local de reunião de comunistas e gente que não tem qualquer compromisso com a América do Sul pelo menos”.

Ulalá! Já imaginaram? Segundo entendi, o Brasil nem mesmo poderia se juntar ao Vaticano e à Palestina, considerados “Estados Observadores Não-Membros”. Nada disso! Seríamos o único país do planeta, gozando de pleno reconhecimento internacional, com fronteiras definidas e independência não-contestada por ninguém, a se declarar rompido com a ONU. Até Kosovo, que anunciou em 2008 a sua independência da Sérvia — e tem o reconhecimento de 111 dos 193 países; o Brasil não está entre eles — quer pertencer à entidade.

O “mito” mostraria aos demais 192 países com quem eles estão lidando.

E por que este novo gênio da raça que se alevanta nas Américas tomaria decisão tão drástica?

Porque ele está injuriado com o Comitê de Direitos Humanos da entidade, que recomendou, em decisão liminar (provisória), que o Estado brasileiro permita que o petista Luiz Inácio Lula da Silva dispute a eleição. Já expliquei aqui a natureza do comitê, formado de observadores independentes. Também já deixei claro que a exortação tem, obviamente, um peso político — tanto é que foi notícia mundo afora —, mas não obriga o Poder Judiciário brasileiro a se subordinar a ela.

Não tem jeito! Quanto mais se evidencia o despreparo de Bolsonaro para exercer a Presidência, mais a sua retórica se exacerba. A declaração vem a público um dia depois de ter ficado claro que ele não tem noção do que é, por exemplo, dívida interna e das dificuldades que o país enfrenta em razão dela. Da mesma sorte, seus militantes na Internet vão elevando a temperatura da boçalidade, pregando, entre outras delicadezas, a queima de livros de autores considerados impróprios e o enquadramento, seja lá o que isso signifique, de todos aqueles que não se subordinarem às diretrizes da “nova ordem”. Até os neutros seriam considerados inimigos. É um pensamento que tem história e pode usar o bigodinho de Hitler ou bigodão de Stálin.

Em tempo: Bolsonaro, se presidente, pode retirar o Brasil da ONU? Não! Isso feriria o Artigo 4º da Constituição, em especial os Incisos V, VI, VII e IX. A iniciativa seria, claro! Barrada pelo Supremo, e o valentão estaria cometendo crime de responsabilidade, incidindo nos seguintes atos previstos no Artigo 5º da Lei 1.079, a Lei do Impeachment:
Art. 5º São crimes de responsabilidade contra a existência política da União:
3) cometer ato de hostilidade contra nação estrangeira, expondo a República ao perigo da guerra, ou comprometendo-lhe a neutralidade;
6) celebrar tratados, convenções ou ajustes que comprometam a dignidade da Nação;
11) violar tratados legitimamente feitos com nações estrangeiras.

Ah, em tempo: a ONU, por onde quer que se olhe, está longe de ser o caminho do paraíso. Afirmar que o Brasil deve romper com a entidade porque esta se constitui num antro de comunistas é uma estupidez que estabelece um marco novo no próprio bolsonarismo.

Por Reinaldo Azevedo

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