quarta-feira, 23 de abril de 2014

O ATO E O FATO


Fiapos de vida!

Brasilino Neto
É, tristemente temos a constatação de que a vida hoje vale apenas fiapos.

Dominou o noticiário da semana o caso envolvendo a morte do garoto Bernardo Uglione, de tenros 11 anos, na cidade gaúcha de Três Passos assassinado, segundo notícias, pela madrasta enfermeira, sua amiga uma assistente social, com a colaboração, ou ao menos conivência de seu pai, médico.

Mas, em minhas estreitas interpretações não foram somente estas pessoas que levaram ao triste desfecho, mas com forte concorrência de instituições que deveriam dar proteção ao menor Bernardo e que, no entanto, por descuido, negligência, omissão ou desinteresse, muito contribuíram.

Faço referência ao juiz, à promotora e ao Conselho Tutelar que fizeram ouvidos moucos, que segundo a definição do DicionárioNet “não são aqueles que não ouvem, são aqueles que não querem ouvir.” O que é pior.

Esta situação se torna ainda mais grave quando os ouvidos que não querem ouvir são aqueles que devem e que têm a obrigação de ouvir, no caso, as autoridades local.

O mais insólito na situação é a fala chorosa, porém, inconsequente da promotora da Vara da Infância e da Juventude de Três Passos, quando diz, segundo a VEJA, que; “Foi a primeira vez em quinze anos de Ministério Público que uma criança veio nos procurar”, e digo “inconsequente” em caso tal, dada sua peculiaridade, deveria ter sido avaliado com mais cuidado e dedicação, pois é por isto que está lotada nesta Vara especializada. 

E, repito inconsequente quando se sabe que ao chegar nas dependências do fórum local Bernardo explicou a seus interlocutores, “em voz baixa, que estava lá porque sua madrasta o xingava e seu pai não lhe dava atenção, e pediu que o ajudassem a ser adotado por outra família”. Que miséria de situação, pois não foi somente seu pai quem não lhe deu atenção, e por isto bem disse a reportagem da revista VEJA “Ele gritou, mas não deu tempo”, e eu completaria, “ele gritou, mas os ouvidos aos quais ele dirigiu seu grito estavam moucos”.

Contam os fatos, ainda mais, que por ser o pai de Bernardo um respeitado cirurgião da região, que vivia abastadamente, que a cidade toda sabia do descaso com que cuidava, ou melhor, não cuidava do garoto e nem mesmo assim ante as especificidade, aqueles que deveriam não cumpriram os papéis para os quais estão propostos. 

Infelizmente o caso foi tratado pelos ritos formais e não com o necessário calor humano, especialmente quando se sabe que em audiência “o pai pede uma segunda chance e dispôs-se, inclusive, a atender alguns desejos do filho, como de ter um peixinho no aquário”, quando então o juiz, nos frios termos da lei “concedeu 90 dias para que o pai cumprisse a promessa de melhorar a relação com o filho”.

Não deu tempo para a melhora da relação, mas somente para a trágica piora e o desfecho com a morte do garoto, por todos abandonado. 

Penso nos estreitos limites das informações que casos assim não podem ser tratados pela contagem de dias, mas pelas circunstâncias peculiares que o envolvem o caso, o que na presente situação infelizmente não se deu. A avaliação foi somente pelos números de dias. Nada mais.

E como foi dito no inicio da matéria, são questões que envolvem os fiapos da vida e não a vida com o valor que ela tem, ou deveria ter.

Um comentário:

Paulo L. disse...

Parabéns doctor Brasilino pela análise serena de um conturbado caso, especialmente pela coragem de abordar fatos envolvendo instituições as quais o senhor bem presta seus serviços profissionais. Tenho orgulho em ser seu amigo.