quarta-feira, 16 de abril de 2014

Dúvidas sobrevivem a 6 horas de Graça Foster


Foster%20explica%20por%20que%20compra%20foi%20%22bom%20e%20mau%20neg%F3cio%22O depoimento da presidente da Petrobras no Senado produziu, finalmente, uma boa notícia para o governo. Após seis horas de arguição de Graça Foster não houve nenhum aumento das dúvidas que roem a reputação da estatal petroleira. A plateia continua nos mesmos 100%. A má notícia é que falhou a tentativa do Planalto de esvaziar o balão da CPI. Não se pode ter tudo na vida.

O prejuízo da refinaria de Pasadena, no Texas, consumiu o grosso da audiência. Essa foi a terceira vez que Graça Foster tratou do assunto no Congresso. Em maio de 2013, falando na Câmara, ela omitira o aval de Dilma Rousseff e protegera o agora ex-diretor Nestor Cerveró. Nesta terça, preencheu as lacunas de modo a endossar o enredo que favorece Dilma e desmoraliza Cerveró.


Aos olhos de hoje, Pasadena foi um mau negócio, reconheceu Graça. Ela orçou o prejuízo em US$ 530 milhões. Ponderou, porém, que a transação foi boa se considerada a conjuntura de 2006, quando a Petrobras adquiriu da Astra Oil os primeiros 50% da refinaria. Ecoando Dilma, Graça disse que o conselho da estatal escorou sua decisão num relatório falho do então diretor Cerveró.

Responsável pela área Internacional, Cerveró omitiu duas cláusulas “essenciais”. Na nota que divulgara no mês passado, Dilma escrevera que não teria aprovado a compra da refinaria se conhecesse todas as cláusulas do contrato. Ora, se é assim, por que Graça Foster declara que o negócio era bom em 2006?

Uma das cláusulas omitidas por Cerveró foi a ‘put option’ (opção de venda). Previa que, a qualquer momento, a Astra Oil poderia forçar a Petrobras a adquirir os outros 50% da refinaria. O que efetivamente foi feito. Graça Foster admitiu que esse tipo de cláusula é usual em negócios do gênero. Se é usual, porque a supergerente Dilma digeriu o relatório “falho” de Cerveró?, eis a pergunta que ficou boiando na atmosfera.

Na versão de Dilma, só em 2008 a Petrobras se deu conta de que seu conselho administrativo fora induzido a erro pelo relatório “falho” de Cerveró. Por que Cerveró não foi mandado ao olho da rua naquela época?, perguntaram vários senadores. Graça limitou-se a dizer que ele foi deslocado da diretoria Internacional da Petrobras para a diretoria Financeira da subsidiária BR Distribuidora, de onde foi afastado há 15 dias. Segundo ela, o segundo posto era menos relevante do que o primeiro. Não convenceu.

De resto, Graça refez as contas de Pasadena. Sabia-se que, em 2005, um ano antes de oferecer Pasadena à Petrobras, A belga Astra Oil comprara 100% do empreendimento por US$ 42,5 milhões. Nesta terça, Graça informou que, em verdade, o valor da compra foi US$ 360 milhões. Como confiar? Segundo ela, a cifra foi levantada pela sindicância interna que mandou abrir no mês passado. Uma sindicância que ainda não terminou.

A ser verdadeiro, o novo preço apenas atenua o vexame. Um ano depois, a Petrobras pagou por metade da refinaria os mesmos US$ 360 milhões que a Astra desembolsara pelo negócio inteiro. Hoje, reconheceu Graça, o montante enterrado no negócio do Texas vai à casa de R$ 1,25 bilhão. A Petrobras quer vender. Mas a melhor oferta que obteve não cobre o que gastou. Por isso, terá de conviver com o mico por prazo indeterminado.

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