Juan Arias, colunista do El País, fala sobre o que o país do futebol ganhou e perdeu com a milionária Copa:
O Brasil ao mesmo tempo já perdeu e já ganhou a Copa, o que não é nenhuma tragédia. Ganhou-a, fora dos estádios, porque o país amadureceu e deseja algo mais do que futebol. Quer uma vida melhor e mais digna, com a Copa ou sem ela.
Perdeu-a porque já não é segredo que o país do futebol chegou tarde, com estádios, além de milionários, remendados na última hora, com possível esbanjamento de dinheiro público, quando a promessa era de que os gastos seriam bancados por empresas privadas. A população, além disso, não obteve vantagens das prometidas novas infraestruturas, sobretudo as de transportes, levadas a cabo nas cidades-sede das competições. E nos aeroportos ainda há obras que deverão ser ocultadas dos turistas.
E como se fosse pouco, observa agudamente Vinicius Torres Freire em sua coluna do jornal Folha de S.Paulo, a Copa, que estava destinada a ser uma ocasião de festa, “teve de ser tratada como operação literalmente de guerra”, já que se anuncia o uso do Exército nas ruas, por temor de protestos violentos, e, segundo alguns, poderá haver uma espécie de “estado de exceção branco” durante o mês da competição. Pode a FIFA governar um país, mesmo que seja só por algumas semanas?
O Brasil estava destinado a fazer a melhor Copa da história, e falta pouco para que acabe sendo uma das mais mal organizadas e mais criticadas até pelos anfitriões. Perdeu-se a Copa antes de disputá-la, algo que, conforme escutei em um ônibus onde viajava gente de classe média, envergonha os brasileiros. Senti no ar o eco da volta do complexo de vira-latas que durante tanto tempo assolou este país grande, rico e de gente invejável por sua capacidade de acolhimento e resistência à dor. A Copa, de certa forma, já foi perdida. (Continua).
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