Descobriu-se, afinal, a serventia da passagem de Ricardo Vélez Rodríguez pelo Ministério da Educação. O personagem consolida-se como um extraordinário protagonista de tríades. Já se sabia que há no mundo três coisas absolutamente seguras: o nascer do Sol, a morte e a próxima trapalhada de Vélez. Descobre-se agora que há também no universo três coisas irrecuperáveis: a pedra atirada, o sexo adiado e o tempo perdido com as trapalhadas de Vélez.
Sob Ricardo Vélez, as coisas não são mais certas ou erradas no Ministério da Educação —elas passam desapercebidas ou pegam muito mal. O ofício com o pedido do ministro para que os estudantes fossem filmados cantando o hino nacional depois de ouvir a mensagem contendo o bordão da campanha de Jair Bolsonaro pegou mal, muito mal. Vélez alegou que a distração o induzira a erro. E enviou um segundo ofício sem o "Brasil acima de todos, Deus acima de tudo."
A coisa continuou pegando mal, muito mal. Instado pelo Ministério Público a prestar esclarecimentos, Vélez mandou dizer que desistiu também da filmagem dos garotos. Alheio às maravilhas da informática, o ministro alega que não teria onde guardar tantos vídeos. De recuo em recuo, Vélez revelou-se dono de notável autossuficiência. Ele mesmo idealiza a bobagem, ele mesmo deita a tolice sobre o papel, ele mesmo providencia a retirada da baboseira de cena.
Restou a sensação de que Ricardo Vélez se autoimpôs a missão de denunciar os erros da pasta da Educação cometendo-os. Faltou explicar o que seria feito com as filmagens que mandou cancelar. Supõe-se que serviriam de matéria-prima para uma campanha institucional sobre patriotismo.
Patriota extremado, o ministro melhoraria a qualidade da pátria se não desistisse da propaganda. Para dar o exemplo, deveria gravar a si mesmo entoando o hino nacional. O hino brasileiro, não o colombiano. Sem sotaque. A propósito, será que Vélez Rodrígues sabe cantar o hino? Se não souber, vai pegar mal, muito mal.
Vélez Rodrigues deveria silenciar os críticos com uma prova. Grave um vídeo, ministro. Se conseguir cantar da primeira à última estrofe, fica autorizado a arrematar a peça com o dístico da campanha do chefe. A esperteza acima de tudo, o capitão acima de todos.
Por Josias de Souza
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