Dois passos à frente e eventualmente um atrás, ensinou Máo Tsé-Tung, histórico líder comunista da China que hoje ainda se diz comunista, embora que disso só preserve o governo totalitário.
O general Augusto Heleno, ministro do Gabinete de Segurança Institucional da presidência da República, de comunista não tem nada, muito pelo contrário, mas com Mao aprendeu alguma coisa.
Deu dois passos à frente ao admitir ao jornal O Estado de S. Paulo que o “clero progressista” da Igreja Católica era uma ameaça ao governo que tudo faria para barrar suas ações na Amazônia.
Deu um passo atrás ao negar, ontem, que o governo monitore padres, bispos e até cardeais convocados pelo Papa Francisco para debater em Roma os problemas daquela região.
“Ninguém está espionando a Igreja”, afirmou o general. Mas voltou a repetir: “Quem cuida da Amazônia brasileira é o Brasil, não tem que ter palpite de ONG estrangeira, de chefe de Estado estrangeiro”.
O recuo nada sutil do general tem a ver com o suave, mas certeiro chega pra lá que levou do secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), dom Leonardo Steiner.
“É um evento, uma celebração da Igreja para a Igreja”, disse o bispo sobre o Sínodo da Amazônia, marcado para outubro próximo. Noutras palavras: o governo não deve se meter com isso.
O medo de Heleno, que reflete o medo dos seus ex-colegas de farda e do presidente Jair Bolsonaro, é que o sínodo acabe servindo de palco para críticas às ideias pouco ou nada ambientais do governo.
A tese do general de que a Amazônia é “um problema interno” do Brasil não resiste a um sopro. A pressão para que a Igreja suavize sua retórica em defesa do meio ambiente não dará em nada.
São tantos os desafios que o governo Bolsonaro tem pela frente que não deveria querer arranjar mais um.
Por Ricardo Noblat
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