terça-feira, 16 de outubro de 2018

Licença para (bater e) matar



Não sou petista, não vou morar em Cuba, não apoio Maduro. Não aceito rótulos. Sou humana, como se define o ator Michel Melamed. Pela minha historia, jamais votaria em Bolsonaro. Pela historia dele .. seria pensável a impugnação de sua candidatura, unicamente em função das barbaridades que diz e prega contra homossexuais, negros, mulheres. Ele ameaça a democracia. Intimida a nação. Atemoriza.

Em 2016, em entrevista à radio Jovem Pan, disse que o erro da ditadura (segundo ele, nem existiu) “foi torturar e não matar”. A frase foi atualizada. Por ele mesmo. Em maio de 1999, havia dito na Band: “No período da ditadura, deviam ter fuzilado uns 30 mil corruptos, a começar pelo presidente Fernando Henrique, o que seria um grande ganho para a Nação”.

Não há fake news, prática absolutamente comum entre seus eleitores, capaz de concorrer com as autenticas intimidações do candidato. No mês passado, no Acre, fustigou os eleitores, sugerindo matança dos opositores: “Vamos fuzilar a petralhada aqui no Acre”. O candidato dissemina a violência. Perigosamente. Seus seguidores não brincam em serviço. Assassinato, espancamentos, pichações usando o símbolo do nazismo, espalham medo e indignação.

Por muito menos, certamente o TSE já teria censurado a oposição. Mas o Tribunal e seus membros fecham os olhos, como fingem não ver a avalanche de mentiras nas redes sociais plantadas por seus eleitores. Bolsonaro segue livre e solto para amedrontar.

Nem é preciso estudar seu perfil ou seu programa de governo. Aliás, parece que tem um. Registrou no TSE, propondo, literalmente, licença para matar para agentes que se envolvem em supostos confrontos de morte. Chama-se “garantia do excludente de ilicitude”. Isso num Brasil recordista de homicídios – de civis e policiais.

Em 2016, o número de homicídios no Brasil passou dos 60 mil num ano. Desse assombro, 71,5% eram negros, 56% eram jovens. O impacto das armas de fogo chega a níveis elevados no país. Em 1980, a proporção dos homicídios causados por armas de fogo estava em 40%. Desde 2003, subiu para 72%.

Bolsonaro quer mais. Garante rever o Estatuto do Desarmamento, vai armar a população, “dar direito do cidadão à legítima defesa sua, de seus familiares, de sua propriedade e de terceiros”. Num descuido, ele próprio admitiu que a facada de Juiz de Fora foi resultado dessa pregação.

Incapaz de amar um filho homossexual, diz que não é “hipócrita”. Prefere ver o filho morto “num acidente do que apareça com um bigodudo por aí. Para mim ele vai ter morrido mesmo” . O que está pregando, dessa vez, o capitão?

A 13 dias do segundo turno, o que mais intriga é pensar que pessoas inteligentes e preparadas fingem não enxergar os perigos que se aproximam. Não haverá novidades num suposto governo Bolsonaro. Ele deixou claro a que veio. Ninguém poderá dizer que foi enganado. Bolsonaro é isso. Beira do abismo.

Por: Mirian Guaraciaba é jornalista, paulista, brasiliense de coração, apaixonada pelo Rio de Janeiro

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