terça-feira, 23 de outubro de 2018

Ataques de Bolsonaro à imprensa ameaçam a democracia, dizem associações de jornalistas


Resultado de imagem para Jair Bolsonaro em discurso na avenida paulista

Associações de jornalistas profissionais manifestaram repúdio aos ataques que Jair Bolsonaro (PSL) fez à imprensa em discurso transmitido na Avenida Paulista, durante manifestação ocorrida no domingo (21).

Para as organizações, as declarações de Bolsonaro ameaçam a liberdade de imprensa e a democracia, demonstram que o candidato não compreende a função do jornalismo e elas impõem ao público o discurso que é mais conveniente para o militar.

No discurso, o presidenciável disse: “Sem mentiras, sem fake news, sem Folha de São Paulo. Nós ganharemos esta guerra. Queremos a imprensa livre, mas com responsabilidade. A Folha de São Paulo é o maior fake news do Brasil. Vocês não terão mais verba publicitária do governo. Imprensa livre, parabéns; imprensa vendida, meus pêsames.”

Marcelo Rech, presidente ANJ (Associação Nacional de Jornais) e vice-presidente do Fórum Mundial de Editores disse que o teor das declarações de Jair Bolsonaro revela ignorância sobre a função da imprensa.

“É lamentável esse tipo de comentário, sobretudo vindo de um candidato à Presidência da República, pois demonstra incompreensão sobre o papel do jornalismo. Também é condenável a ameaça de retaliação com investimentos publicitários do governo, que devem seguir sempre critérios técnicos e não políticos”, afirmou Rech.​

Para a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), políticos atacam a imprensa porque preferem impor ao público o discurso que mais convém aos interesses deles. Ainda segundo a associação, é função do bom jornalismo cobrar que os candidatos, independente da posição ideológica, respeitem às leis e o regime democrático.

“Para demonstrar algum compromisso com a preservação da democracia, o candidato deveria condenar a intimidação de jornalistas, em vez de fomentar essa prática”, disse Daniel Bramatti, presidente da associação.

A Abraji já compilou 140 casos de violência contra jornalistas no período eleitoral. Com o crescimento do assédio, a associação tem divulgado uma cartilha que orienta repórteres sobre ataques virtuais.

Ameaças e agressões durante o exercício da profissão tornam instável o trabalho de jornalistas no Brasil, diz a Repórteres Sem Fronteiras, organização não-governamental.

Em 2018, de acordo com a ONG, entre 180 países analisados, o Brasil ocupa a 102ª posição em liberdade de atuação da imprensa.


Em nota, a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) disse que espera que “a incontinência verbal do candidato Jair Bolsonaro (PSL) em relação à Folha tenha sido proferida no calor das paixões”. 

No dia 17 de outubro, Jair Bolsonaro (PSL ) e Fernando Haddad (PT) assinaram o termo de compromisso elaborado pela ABI no qual afirmam que vão respeitar a liberdade de imprensa. Domingos Meirelles, presidente da associação, diz não acreditar que as declarações de Bolsonaro quebram o termo de compromisso assumido com a associação, mas acha inaceitável ameaças e intimidações contra veículos de comunicação. 

“Esperamos que a manifestação do candidato Jair Bolsonaro se circunscreva a esse lamentável episódio e que essa grave ameaça tenha apenas representado uma desastrada bravata de campanha”, encerra a nota.

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