Começa em 31 de agosto o horário político no rádio e na TV. Vai durar 35 dias, até 4 de outubro, antevéspera da eleição. Como sempre, os candidatos levarão ao ar propaganda política, não informação política. A mistificação será maior em 2018. O combate à corrupção, uma das prioridades do eleitor, tende a ficar em plano secundário, pois alguns dos principais candidatos negociam a incorporação de partidos sujos às suas coligações. Em troca de alguns segundos a mais de propaganda, dão de ombros para a lama.
A corrida pelo Planalto é marcada por um paradoxo: quem tem mais votos —Jair Bolsonaro, Marina Silva e Ciro Gomes— não dispõe de partidos estruturados. Quem tem estrutura partidária —Geraldo Alckmin e Henrique Meirelles— não dispõe de votos. A exceção é o PT, que tem estrutura e Lula. Mas o candidato favorito amarga numa cela o castigo de segunda instância que fez dele um ficha-suja.
O excesso de candidatos retardou a formação das coligações. Começa a bater um desespero nos candidatos. A vitrine eletrônica terá uma dimensão fixa: dois blocos de 12min30s —um no início da tarde, outro à noite— sempre às terças, quintas e sábados. Sem contar as inserções de 30 segundos espalhadas ao longo da programação, até totolizar 14 minutos diários por emissora. Quanto maior a coligação partidária, maior o tempo de exposição do candidato. Daí a inquietação.
A bordo do minúsculo PSL, Jair Bolsonaro, que lidera as pesquisas nos cenários sem Lula, dispõe de ridículos 10 segundos de propaganda diária. Defensor de gogó da ética e dos bons costumes, o ex-capitão negocia abertamente, na frente das crianças, uma aliança com o PR do ex-presidiário do mensalão Valdemar Costa Neto, dono de um tempo de publicidade de 45s.
Tomado pela biografia, Ciro Gomes poderia puxar um debate sobre corrupção. Mas ele dispõe de exíguos 33s de propaganda. E negocia uma aliança do seu PDT, varrido do Ministério do Trabalho na gestão Dilma sob a acusação de converter a pasta num ninho de ONGs desonestas, com os 50s de propaganda do PP, campeão no ranking de enrolados na Lava Jato.
O PSDB oferece a Geraldo Alckmin 1min18s de propaganda. Perto do tempo dos rivais, trata-se de um latifúndio eletrônico. Mas é insuficiente para prover ao candidato uma exposição capaz de projetá-lo da quarta colocação para o segundo turno da eleição. Às voltas com a acusação de receber R$ 10,3 milhões da Odebrecht por baixo da mesa, Alckmin já adicionou ao seu tempo os 33s do PTB do ex-presidiário Roberto Jefferson, o homem-bomba do mensalão.
Insatisfeito, Alckmin frequenta o mercado da baixa política disposto a fechar qualquer negócio. Não descarta nem mesmo a hipótese de celebrar um acordo com o PMDB. Apinhada de delatados, investigados, denunciados, réus, condenados e presos a legenda de Michel Temer virou lixo hospitalar. Mas dispõe de 1min26s, que Alckmin disputa com o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles.
Repete-se em 2018 a mesma pantomima de eleições anteriores. Antes de se venderem no horário eleitoral como protótipos do avanço, os candidatos entregam a alma ao atraso em troca de segundos de propaganda. Com isso, em plena crise de compostura, a ética pode se tornar um valor invisível na campanha de 2018. Candidatos como Marina Silva (Rede) e Álvaro Dias (Podemos) talvez se animem a tocar no assunto. Mas será por pouco tempo. Cada um dispõe de 12s diários de exposição no rádio e na TV.
Por Josias de Souza
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