Jair Bolsonaro vai se revelando um presidenciável peculiar. As poucas ideias que tem não são boas. E algumas nem são dele. Quando discursa, o candidato passa a impressão de que apenas repete o que a plateia deseja ouvir. Nesta quarta-feira, falando para prefeitos, Bolsonaro defendeu a flexibilização dos rigores do Ministério Público no trato com gestores municipais em litígio com a lei.
Disse Bolsonaro: ''Temos de ter coragem de falar sobre o Ministério Público. Faz um bom trabalho? Em parte, sim. Mas tem seus problemas. Que prefeito não fica com medo ou preocupado respondendo por improbidade administrativa? Temos de mudar isso.''
Como assim? ''Não é dizer que não vai ter mais fiscalização, não é isso. Mas temos de ser prefeitos, governadores e presidente sem medo. Todos nós podemos errar. E não é do erro que vem acontecendo, vem uma lapada em cima da cabeça da gente.'' Sem medo, chegou-se ao mensalão, punido com cadeia pelo STF. Com medo, produziu-se o petrolão. Mas Bolsonaro quer um Ministério Público “parceiro”. Pelo bem do “desenvolvimento do Brasil.”
Os repórteres estranharam a falta de nexo, pois Bolsonaro apresenta-se na campanha enrolado na bandeira do combate à corrupção. E o candidato: Não ''tem nada a ver uma coisa com outra. Tem que ter bom senso. Até um simples fiscal não pode chegar num estabelecimento e meter a mão na caneta. Orienta num primeiro momento. Quem nunca reclamou de uma multa de trânsito? Esta é a intenção. O combate à corrupção tem que continuar''.
Bolsonaro sentiu a necessidade de esmiuçar um pouco mais seu raciocínio. ''Por exemplo: quando fala de propriedade rural, está lá a emenda constitucional do trabalho escravo. Ninguém é a favor de trabalho escravo. Tem gente do Ministério Público, do Judiciário, que entende que o trabalho análogo à escravidão também é escravo. Tem que botar um ponto final nisso. Análogo é uma coisa e escravo é outra.''
Quer dizer: a pretexto de justificar um absurdo —o relaxamento na fiscalização de malfeitos municipais— Bolsonaro se alinhou com outras três temeridades: desmereceu o trabalho de fiscais fazendários, estimulou a rebelião contra inspetores de trânsito e revelou-se condescendente com a exploração de mão de obra no campo. Fez tudo isso num instante em que negocia uma aliança com o PR de Valdemar Costa Neto, o ex-presidiário do mensalão.
Nesse ritmo, o ex-capitão vai acabar ensinando ao seu eleitorado que não se deve confundir um certo candidato com o candidato certo. Não é que o Bolsonaro seja contra o combate à corrupção. Não, não. Absolutamente! Ele apenas ostenta princípios éticos flexíveis. Natural. Acabar com a corrupção sempre foi a prioridade de todos os que ainda não chegaram ao poder.
Um comentário:
Políticos são todos iguais. Uns expressam o que seus neurônios "esquerdistas" lhes sussuram, enquanto outros, expressam os ditames dos seus neurônios "direitistas". Em comum, os dois são igualmente punguistas: roubam em meio a multidão e, na grande maioria das vezes, sem que ninguém perceba.
Postar um comentário