sábado, 30 de maio de 2015

Governo tenta pegar uma carona no caso Fifa



É bom saber que o governo acompanha o noticiário. É ótimo verificar que o governo reage às notícias. Seria insuportável conviver com um governo que desprezasse a realidade. Mas um governo assim, atento às descobertas alheias, também é preocupante. O que as autoridades fazem em reação às manchetes é o que se abstiveram de fazer por obrigação. Ou precaução.

No escândalo da Fifa, Brasília se esforça para pegar uma carona no trabalho do FBI. A presença do ex-presidente da CBF José Maria Marin entre os presos da Suíça é constrangedora para essa terra de palmeiras. Ficou evidente que, por omissão ou negligência, os órgãos de investigação do país do futebol foram driblados pela cartolagem. Agora, chegam com atraso no lance.

Com o escândalo já estampado nas manchetes, o ministro José Eduardo Cardoso(Justiça) foi à grande área. Mas o campo pareceu-lhe mal demarcado. “Só podemos investigar delitos que sejam tipificados pela legislação brasileira. Se neste caso houver, a Polícia Federal abrirá um inquérito e fará uma investigação rigorosa em relação a isso.''

Segundo Cardozo, o Departamento de Justiça Americano propôs uma tabelinha. Um dos procuradores que atuam no caso, Kelly Currie, disse que a Justiça dos Estados Unidos pretende compartilhar informações. Se quiser, o Brasil poderá abrir suas próprias investigações.

“A cooperação do Brasil será feita”, disse Cardozo, chutando uma bola quadrada. “Havendo indício de práticas ilícitas perante a legislação brasileira e de órbita federal, agiremos com rigor”, completou, com a disposição de um zagueiro de time de várzea. “É interesse do Brasil que tudo se esclareça.''

Nesta sexta-feira, a Receita Federal veio à lateral do campo para informar que investiga fraudes no futebol brasileiro desde 2002. Hã?!? O fisco diz ter perscrutado 96 pessoas e empresas ligadas à bola. Em 13 anos, cobrou R$ 4,7 bilhões em tributos, multas e juros. Não disse se acionou o Ministério Público Federal ou a PF. Tampouco revelou os nomes dos investigados. Alegou que estão protegidos pelo sigilo fiscal.

Informou-se que o setor de Inteligência da Receita busca informações no fisco americano. Quer saber se há novas provas contra personagens que já auditou ou acusações contra envolvidos que jamais farejou.

De repente, o futebol tornou-se uma urgência governamental. Não que já não fosse, por malcheiroso, urgente há décadas. Fica-se imaginando por quanto tempo a CBF continuaria fazendo o que bem entende se o FBI não tivesse transformado o urgente em alarmante.

Editoria de Arte/Folha

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