Responsável pelo abastecimento de água em São Paulo, a Sabesp mantém com 500 grandes consumidores contratos que não combinam com a atmosfera de seca, a mais severa em 84 anos. Num instante em que o governo tucano de Geraldo Alckmin prepara um rodízio e flerta com o racionamento, esses clientes são premiados pelo consumo. Quanto mais água utilizam, menos pagam.
A repórter Maria Martín obteve uma lista com 294 nomes de superclientes da Sabesp. Veiculou-a no El País. Datada de dezembro de 2014, a peça é oficial. Foi enviada pela própria Sabesp à CPI municipal que investiga os negócios da companhia com a prefeitura de São Paulo.
Constam da relação, por exemplo, condomínios de luxo, bancos, hospitais, shoppings, indústrias, supermercados, colégios, clubes de futebol, hotéis e até a Bolsa de Valores de São Paulo. Pagam pela água menos do que o valor fixado na tabela aplicada à clientela que consome menos no mesmo ramo de atividade comercial ou industrial.
O Shopping Eldorado, por exemplo, consome mensalmente algo como 20.000 m3 de água. É o suficiente para suprir as necessidades de 1.200 famílias de quatro pessoas. Para cada mil litros d’água que utiliza, paga R$ 6,27. Clientes comerciais que não assinaram contrato com a Sabesp desembolsam R$ 13,97. O desconto concedido ao shopping é de 55%.
O Hotel Hilton mantém spa e centro fitness aberto 24 horas. Outra atração é sua piscina com vista panorâmica. A hospedaria verte 11.722 m3 de água por mês. O equivalente ao consumo de 751 famílias. Paga R$ 6,76 por mil litros. De novo, bem menos que os R$ 13,97 da tabela. A fábrica de celulose Viscofan, situada no topo da lista de consumidores que foi divulgada, paga ainda menos R$ R$ 3,41.
Os 294 superconsumidores citados na lista que veio à luz firmaram os contratos com a Sabesp a partir de junho de 2010. Juntos respondem por 1,23% do total de água consumida na cidade de São Paulo. O percentual crescerá expressivamente quando forem conhecidos os 206 consumidores cujos nomes ainda permanecem em sigilo.
Antes de entregar a relação parcial à CPI, a Sabesp sonegara a lista à Agência Pública de jornalismo. A entidade recorreu ao corregedor-geral da governo de São Paulo, Gustavo Ungaro. Que determinou, no final de janeiro, a entrega do papelório. Nas palavras de Ungaro, “não há como negar interesse coletivo'' que os contratos despertam —“quer por envolver a atuação de uma sociedade de economia mista quer por ter por objeto a administração de um bem público: a água.”
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