quinta-feira, 5 de julho de 2018

Cansados da solidão



Em dois anos, mais de duas dezenas de padres católicos migraram para a Igreja Anglicana. Obrigação do celibato é, quase sempre, o motivo da mudança

Todo aquele que é ordenado padre faz três votos fundamentais e obrigatórios até o fim da vida religiosa: a obediência, a pobreza e a castidade. O objetivo é que o corpo, frágil em sua essência, não sirva às necessidades pessoais, mas tão somente à vocação de pregar a palavra de Deus. A prática, no entanto, mostra que sobretudo o terceiro item configura um desafio ao qual muitos homens de fé terminam por sucumbir. Em toda a história da Igreja Católica, 39 papas se casaram ou tiveram filhos — incluindo o primeiro deles, Pedro. A Bíblia tem passagens que mencionam a família do primeiro bispo de Roma: “E Jesus, entrando em casa de Pedro, viu a sogra deste acamada, e com febre” (Mateus, 8:14). Dos 39 papas que constituíram família, mais da metade (outra vez, Pedro entre eles) o fez sem atentar contra o decoro do sacerdócio. Isso porque a primeira menção ao celibato se deu só no início do século IV, no Concílio Regional de Elvira, na Espanha. “A regra nasceu da constatação empírica de que os clérigos sem família tinham maior dedicação à Igreja”, diz Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo, biólogo e coordenador do Núcleo de Fé e Cultura da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-­SP).

Na Idade Média, a situação ganhou novos contornos. A castidade passou a ser, além de uma medida prática, um instrumento para atender às conveniências de uma instituição cada vez mais rica. Ao evitar que religiosos viessem a ter herdeiros, a Igreja também reduzia as possibilidades de ver dissipado o seu crescente patrimônio. O Segundo Concílio de Latrão, em 1139, ampliou o celibato para todo o Ocidente. Séculos depois, em 1563, no Concílio de Trento, estabeleceu-se que o rompimento do voto de castidade devia ser punido com a excomunhão. O celibato, como expressão de dedicação à divindade, existe também entre os monges budistas. Mas, entre as grandes religiões, a única a exigir a abstinência sexual é a católica romana. O judaísmo, o islamismo, as igrejas protestantes e evangélicas permitem a construção da família entre seus líderes. Mesmo os católicos orientais, como os maronitas, aceitam a ordenação de homens casados, com a única ressalva de que não podem ascender a bispos.

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Um comentário:

André Silvestre disse...

Acho que quando o sujeito se decide pela vida religiosa ele tem que assumir aquilo que se compromete, assim como o sacerdócio é um sacramento e o casamento também o é. Mais Deus é pai e é misericordioso.