quarta-feira, 14 de agosto de 2019

Governador de SC prova haver vida inteligente no PSL



Será mesmo que pode haver vida inteligente até no PSL? O governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, parece indicar que sim. A questão, agora, é saber se ele vai conseguir continuar ou sobreviver no partido. Ele concede uma entrevista à Folha que o distancia brutalmente das sandices que habitualmente são ditas no partido ou pelo próprio presidente da República. Leiam trecho:

Por Paula Sperb: 
Em 2018, sem nunca ter concorrido a nenhum cargo político antes, Carlos Moisés da Silva, 51, foi eleito com 71% dos votos dos catarinenses para governar o estado. Filiado ao PSL, partido do atual presidente da República, disse em sua primeira entrevista, logo no começo da campanha eleitoral, que não era um "mini-Bolsonaro".

Apoiadores acharam que a declaração poderia prejudicá-lo, já que a estratégia de muitos candidatos, inclusive de outros partidos, era colar em Jair Bolsonaro e usar sua popularidade para arrancar votos — como ocorreu no Rio Grande do Sul, por exemplo, com José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB). 

"O que quis dizer é que o que a gente vê nas redes sociais são militâncias extremas, ou extrema-direita ou extrema-esquerda, o pessoal da arminha. Para mim é muita sandice essas coisas", disse, em entrevista à Folha ao entrar no oitavo mês de sua gestão.

A afirmação não prejudicou Carlos Moisés, que, agora no poder, tem adotado medidas distintas do governo federal, como taxar agrotóxicos e incentivar agricultura orgânica. 

"Qualquer pessoa que raciocine um pouco, que saia do padrão mediano, vai entender que não se pode incentivar o uso [de agrotóxico]", afirma. 

Ele também se mostra aberto para a pauta de LGBTs e de grupos indígenas. "Quem tem preconceito tem que trabalhar a cabeça para se livrar deles. O estado tem que se aproximar", disse.

Carlos Moisés é casado e tem duas filhas. Coronel da reserva dos bombeiros, é também advogado e mestre em direito. 

No início da sua campanha, o senhor chegou a dizer que não é um 'mini-Bolsonaro'. Por quê? 
Foi na minha primeira entrevista, quando decidi ser candidato. Não fiz pré-campanha. Assim que coloquei no sistema, me entrevistaram. Quando falei 'não sou um mini Bolsonaro', causou um estresse. Porque achavam que podia prejudicar a campanha. 

O que quis dizer é que o que a gente vê nas redes sociais são militâncias extremas, ou extrema-direita ou extrema-esquerda, o pessoal da arminha. Para mim é muita sandice essas coisas.

Não vejo um homem público com esse tipo de comportamento ou copiando. Cada um faz o que quer, enfim. Não preciso copiar comportamento. Tenho as minhas próprias ideias. A essência da declaração foi dizer que não irei repetir comportamentos, terei ideias próprias, com convicções. 

O senhor acabou com o incentivo fiscal aos agrotóxicos, na contramão do que faz o governo de Bolsonaro, que já liberou quase 300 produtos. Qual a razão? Quando isento de imposto ou quando reduzo tarifa, estou dizendo 'usem mais, isso é bom, é um produto essencial'. Agrotóxico não é bom. Jamais vou incentivar veneno que polui lençol freático, que deixa resíduos em hortaliças.

Não existe margem segura para resíduos. É comprovado que causam problemas de saúde e doenças. Aplicar isenção sobre agrotóxico é uma excrecência política, jurídica, é uma irresponsabilidade de gestão. Qualquer pessoa que raciocine um pouco, que saia do padrão mediano, vai entender que não se pode incentivar o uso. 

Os produtores orgânicos estão um pouco abandonados. Vamos trazê-los para comercializar na Ceasa. Se eu precisar buscar em casa o produtor orgânico, eu vou.

Não estou proibindo agrotóxicos, mas não incentivo. Os críticos dizem que estamos taxando o agronegócio, que representa 30% do PIB do estado. Não é taxar o agronegócio, é o veneno. O Ministério Público já calculou que essa taxação repercute entre 2% e 3% no preço final. Esse é o meu compromisso como o meio ambiente, como cidadão, como pai de duas meninas. 

O senhor recebeu o MST em seu gabinete, que também incentiva os orgânicos. Qual a sua postura em relação ao movimento? 
Temos cerca de 17 mil famílias assentadas. Eles propuseram uma visita. Veio com eles um grupo que trabalha com a produção agroecológica. O pessoal que produz nesse sistema cuida da sua propriedade, do vizinho, do córrego da água. 

A agricultura familiar produz, mas não chega a atender grandes cadeias como a questão da proteína animal, que tem importância no agronegócio de Santa Catarina, que alimenta o Brasil e o mundo. Uma coisa é a agricultura familiar e outra o agronegócio. Por que não recebê-los, não é?

Não consigo entender quem raciocina que não devo receber. Assim como recebi as mães pela diversidade, com filhos homossexuais, que têm uma série de demandas de violência, o estado tem obrigação de atendê-los. 

Não podemos fazer gestão com pensamentos menores, com preconceitos. Quem tem preconceito tem que trabalhar a cabeça para se livrar deles, inclusive. O estado tem que se aproximar. 

Recebi um grupo de indígenas. Essas pautas para mim são tranquilas. Antes de ser governador, eu parava o carro para comprar artesanato do índio, comprava as hortaliças sem agrotóxicos, aceitava alguém com orientação sexual diversa da minha. Por que vou mudar agora que sou governador? 
(…) 

Na Folha

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