sexta-feira, 23 de agosto de 2019

Se agro não impuser limite a Bolsonaro, vai à lona



Algumas fotos que celebridades andaram espalhando mundo afora sobre queimadas na Amazônia são falsas. Mas os incêndios são verdadeiros. E essa é a questão relevante. O que Madonna, Leonardo DiCaprio, Lewis Hamilton ou Gisele Bündchen entendem sobre florestas e seu manejo? Provavelmente, nada! Mas e daí? Isso muda a situação objetiva das queimadas no país? Também não. E há uma questão que antecede a imagem apocalíptica do fogo. É aí que reside o problema. Um problema, já adverti aqui algumas vezes, que está a um passo de ter desdobramentos econômicos dramáticos.

O desmatamento na Amazônia voltou a crescer brutalmente. E agora o alerta ganhou o mundo. O presidente Jair Bolsonaro encontrou um culpado: a imprensa. Segundo ele, se países deixarem de comprar a carne e a soja do Brasil, a culpa será do jornalismo, atividade que, segundo ele, está em extinção. Culpa nossa?

No dia 29 de abril, escrevi o seguinte neste blog sobre a abordagem que o governo fazia do meio ambiente: 
O agronegócio brasileiro está brincando com o perigo ao dar seu apoio incondicional, cego, a Jair Bolsonaro em vez de lhe impor limites. E o faz, por incrível que pareça, por puro, como diria o presidente, "viés ideológico" — ou, se quiserem, "cegueira ideológica". O setor no Brasil está entre os mais competitivos do mundo. Em algumas áreas, é O MAIS! Não alcançou essa posição brincando de faroeste, mas investindo em tecnologia; não chegou a tal lugar demonizando o meio ambiente, mas reconhecendo que esse é hoje um ativo importante. Não logrou tanto sucesso porque olhou apenas para o próprio umbigo. Não! internacionalizou-se. Estudou os mercados mundiais, procurou baratear custos, investiu em pesquisas.

Escrevi mais: 
O agronegócio brasileiro está brincando com o perigo e está se deixando conduzir por radicalismo ideológico e pouco pragmatismo. As ações do ministro Ricardo Salles nos órgãos ligados ao meio ambiente seguem rigorosamente as instruções de Jair Bolsonaro. O ânimo é de confronto permanente e desmonte da estrutura de fiscalização. Se existem maus funcionários, que sejam substituídos. Se não podem ser demitidos, que sejam submetidos a procedimentos administrativos. Mas ninguém teve notícia, até agora, de restrições de natureza técnica. O que se constata é uma espécie de incursão punitiva na área para a) demonstrar quem manda; b) evidenciar que são outras as prioridades. Mas quais?

Sempre foi uma pergunta sem resposta. 

Sim, é verdade! É muito provável que a grita internacional contra o desmatamento também esconda interesses comerciais, como quer o ministro Onix Lorenzoni, da Casa Civil. Mas, ao mesmo tempo, ele acena com a tolice de que os comunistas, ora vejam!, estariam por trás de uma suposta campanha contra a o Brasil.

Certo! Então os comunistas do mundo se juntaram àqueles que querem impor medidas protecionistas em seus respectivos países para conspirar contra, deixem-me ver, o governo Bolsonaro, é isso? Trata-se de uma asneira que nem errada consegue ser. Até porque o Brasil vem conseguindo responder a contento às pressões econômicas disfarçadas de restrições ambientais. E assim nos tornamos a maior potência agropecuária do mundo.

O problema não nasceu lá fora, mas aqui dentro. O discurso de Bolsonaro sobre o meio ambiente é velho, é antiquado, é passadista. O Brasil conta com um Código Florestal eficiente, que atende às demandas econômicas do país. Não foi conquistado sem muitos debates e embates. Sim, foi preciso enfrentar o extremismo ambientalista para aprová-lo. Mas o resultado conseguiu conciliar os interesses da preservação com os da produção. É curioso que o bolsonarismo trate do tema como se o Brasil fosse um deserto produtivo na área de agricultura e pecuária. É precisamente o contrário.

E parte considerável desse desempenho se deve aos compromissos ambientais. E como é que aumentamos nossa produção de soja e carne preservando florestas? Porque isso nos permitiu ganhar mercados. Os mercados que podemos perder.

Quando o presidente francês, Emmanuel Macron, fala em levar a questão da Amazônia ao G7, as coisas mudam de patamar. Pode-se acusá-lo de colonialista, protecionista, o diabo… Ninguém vai invadir o território brasileiro para impor isso ou aquilo ao país. Mas ninguém é obrigado a comprar a nossa carne e os nossos grãos. 

Ou Bolsonaro muda a sua retórica — e a sua prática —, ou os brasileiros pagarão o preço do discurso irresponsável.

Por Reinaldo Azevedo

Um comentário:

Anônimo disse...

O Brasil foi enganado mais uma vez e, dessa vez, por um louco.
As falas irresponsáveis desse louco contribuíram para motivar criminosos e gananciosos a acelerarem o desmatamento na Amazônia.
À cada dia, quando o louco para e é "importunado" por jornalistas, ele demonstra cada vez mais o seu lado vingativo, irracional.
O louco fingiu sentimentos, fingiu ser "família cristã", fingiu que iria combater a corrupção - mas, já está fazendo acordos para livrar o filhão.
O louco está construindo no capricho a estrada para a permanência definitiva no pior dos mundos possíveis. Lamentavelmente.