quarta-feira, 22 de março de 2017

Janot, o tuiuiú, quer Planalto ou governo de MG. E ataque covarde



O ministro Gilmar Mendes, do Supremo, presidente do TSE, agiu nesta terça com coragem. Sim, dele se pode dizer ser um homem corajoso. Eu jamais diria, como contraponto, que Rodrigo Janot é um covarde. Se não posso elogiar, também não difamo nem injurio. Mas uma coisa é certa: agiu como um covarde. E essa covardia é tanto maior quando se sabe que o procurador-geral da República articula sua candidatura à Presidência da República ou ao governo de Minas — ele está mais inclinado para isso.

Vale dizer: aquele que tem na mão o “Poder da Lista”; aquele cujos subordinados convocam jornalistas — em off, claro! — para calcinar nomes; aquele que vai assumindo, em razão de procedimentos heterodoxos, o controle da política já não se constrange em trocar com interlocutores especulações sobre seu futuro eleitoral. O tempo vai dizer se será apenas ele. Acho que não.

Sim, Janot é candidatíssimo. Janot quer ser presidente do Brasil ou governador de Minas.

Agora vamos ao resto.

Numa peleja, o corajoso ataca de frente, como fez Mendes na terça-feira, em Sessão da Segunda Turma, ao cobrar providência das PGR em razão do “vazamento em off” da tal lista. Em texto publicado nesta domingo, a ombudsman da Folha, Paula Cesarino Costa, denuncia o vazamento industriado. E, como se sabe, os jornalistas se calaram a respeito. Em reação ao descalabro, Mendes cobrou providências, demonstrou que o Supremo está sendo aviltado, chamou a atenção para vocações totalitárias no Ministério Público e na Polícia Federal.

Nesta quarta, Janot reagiu com uma carta. Tivesse se comportado como um homem corajoso, teria se referido abertamente a Mendes, inclusive para arcar com as consequências legais do que disse. Mas preferiu o caminho da covardia.

Ao falar bem de si mesmo, o único de dois esportes que o rotundo procurador-geral pratica, afirmou que não participa “dos banquetes palacianos, fugindo dos círculos de comensais que cortejam desavergonhadamente o poder político”. Refere-se ao fato de que o ministro jantou, sim, com lideranças políticas de diversos partidos para debater a reforma política. Jantar aberto, à luz da noite, sem subterfúgios. O segundo esporte é que se bebe porque líquido. Fosse sólido, comê-lo-ia.

De resto, Janot tem certeza do que diz? Como esquecer a fala imortal de Lula, em conversa com o advogado Sigmaringa Seixas, e sem saber que estava sendo gravado? Ao ouvir do interlocutor que havia um caminho “formal” para lidar com Janot, o líder petista disparou: “Esse cara, se fosse formal, não seria procurador-geral da República; teria tomado no cu; teria ficado em terceiro lugar (…) Quando eles precisam, não tem formalidade; quando a gente precisa; é cheio de formalidade”.

Bem, parece evidente que Lula está dizendo que ele próprio e o partido atuaram para a eleição de Janot. E por caminhos informais. Pois é… Os leitores mais jovens não sabem que Janot integrava a turma da esquerda do MPF, próxima do PT. Era os chamados “tuiuiús”, uma turma buliçosa, que vivia criando problemas para o governo FHC, mas que não conseguia chegar lá. Ora, conseguiu com Lula. Os “tuiuiús” chegaram ao poder, em eleição classista, sindical e não-prevista na Constituição, em 2003, no primeiro governo Lula. A “tradição” da eleição fora da lei teve início com Cláudio Fonteles (2003-2005), Na sequência, vieram Antonio Fernando de Souza (2005-2009), Roberto Gurgel (2009-2013) e… Janot. Sim, ele anseia ser reconduzido ao cargo. Para seus projetos políticos, é preciso estar na ribalta até a data da desincompatibilização.

Mais coragem e covardia

Sempre sem citar nomes, o acusador-geral a República afirma:

“Em projeção mental, alguns tentam nivelar a todos à sua decrepitude moral, e para isso acusam-nos de condutas que lhes são próprias, socorrendo-se, não raras vezes, da aparente intangibilidade proporcionada pela eventual posição que ocupa na estrutura do Estado”.

Acho interessante que aquele que está concorrendo para, na prática, absolver o PT de todos os seus crimes ao sugerir que todos são iguais; que tem a ousadia de pedir para invadir os arquivos do Supremo; que se nega a fazer procedimentos prévios de investigação para saber se uma acusação ao menos faz sentido… Bem, é curioso que alguém assim — que não chegou ao cargo, segundo Lula, por “procedimentos formais”, resolva atacar a moral alheia.

Janot nega o que todos os jornalistas sabem que, ora vejam!, aconteceu. E também nisso há covardia. Leiam: “Quanto a esse fato em particular (coletiva em off), posso afirmar que vários dos jornalistas aqui presentes são testemunhas deste fato. Testemunhas oculares desta mentira, desta aleivosia que foi lançada por um meio de comunicação, irresponsavelmente por um meio de comunicação”.

Bem, aconteceu! Janot está contando o oposto da verdade.

E avança contra a coluna da ombudsman de maneira ambígua: “Aliás, essa matéria, que procura agredir o Ministério Público, essa matéria jornalística que sequer ouviu o outro lado, nós não fomos chamados a nos pronunciar sobre essa mentira, imputa também essa mesma prática de coletivas em off, com vistas a cometer crime de divulgar assuntos sigilosos e protegidos por sigilo legal ao Congresso Nacional, ao Palácio do Planalto e, diz a matéria, ao Supremo. Imputa essa prática como sendo uma prática corriqueira dos maiores Poderes da República”.

Vamos lá, já caminhando para o encerramento. O procurador-geral, como resta visível, tenta desqualificar a coluna da Ombudsman na parte que imputa um crime grave aos senhores procuradores, mas já se nota que ele vê as demais acusações com simpatia; vale dizer: quando a coluna acusa Congresso, Palácio e Supremo de promover vazamentos, ai o tuiuiú já considera plausível.

Voo de Janot é desengonçado, como é próprio à espécie, mas ele tem método. Está com a política e os políticos na mão. E sonha chegar bem alto.

Por Reinaldo Azevedo

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