sábado, 23 de julho de 2016

Terrorismo à brasileira: o que há por trás das prisões


AMEAÇA Nível 4 - As forças de segurança simularam diversas situações de ataque terrorista durante os Jogos do Rio de Janeiro
AMEAÇA Nível 4 - As forças de segurança simularam diversas situações
 de ataque terrorista durante os Jogos do Rio de Janeiro (YASUYOSHI CHIBA/AFP)

Na revista Veja desta semana

Estirado em um velho sofá azul, vestindo calças camufladas de combatente e com os cabelos desgrenhados, um jovem imberbe esforça-se para explicar a um interlocutor as suas convicções sobre algo que parece conhecer pouco, o Islã. Brasileiro, ele se confessa admirador de uma certa “doutrina do terror”. Explicando melhor, considera justificável que inocentes sejam assassinados em ataques suicidas para vingar a morte de muçulmanos. Ele sabe que está sendo filmado. “Fomos nós, muçulmanos, que invadimos o país deles?”, questiona. O diálogo não segue uma lógica cartesiana, mas fica claro que ele se refere ao atentado ocorrido na Flórida, em que 49 pessoas morreram num ataque terrorista a uma boate gay. “Mataram cinquenta lá. E os 10 000 do Afeganistão? Não tiro a razão dos caras”, diz. O rapaz sofre para organizar o raciocínio, enquanto pronuncia palavras arrastadas, balbucia coisas incompreensíveis, chegando a aparentar uma descompensação mental. Por fim, festeja o atentado em Nice, na França, que fez 84 mortos, “infiéis”, como ele os chama.

As cenas desse vídeo levaram a Polícia Federal a desencadear a operação antiterror da semana passada, a maior do gênero já vista no Brasil. Foram expedidos vinte mandados de busca e apreensão em dez estados. Onze homens foram presos e um ainda estava foragido até o fechamento desta edição de VEJA. Todos foram transferidos para o presídio de segurança máxima em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. O rapaz que admira a “doutrina do terror” vinha sendo monitorado havia meses por agentes da Divisão Antiterrorismo. Ele e outros onze brasileiros participavam de grupos que juraram lealdade ao Estado Islâmico, discutiam estratégias de combate, tentavam aliciar pessoas. Eram só observados, até o momento em que um deles tentou comprar um fuzil AK-47 pela internet, outro recomendou que fizessem treinamento de tiro, um terceiro conclamou os colegas a se matricularem em cursos de artes marciais — e todos conversavam sobre um ataque durante os Jogos do Rio de Janeiro.

A suposta “célula brasileira do Estado Islâmico” vinha sendo monitorada pela Polícia Federal e pela Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Os investigadores acompanhavam os passos do grupo pela internet, no Facebook, no Twitter e em aplicativos de troca de mensagens. A princípio, os “defensores da sharia”, código de leis seguido pelos muçulmanos radicais, não pareciam ameaçadores. Entre as mensagens captadas pela polícia estão discussões sobre se o grupo deveria ou não considerar a possibilidade de cometer um atentado no Brasil, já que, como disse um dos integrantes, o país não participa da coalizão que combate o Estado Islâmico (ao que outro participante retrucou que o Brasil não, mas alguns dos países que virão ao Rio para a Olimpíada sim). Em outro diálogo, um dos suspeitos afirma estar juntando dinheiro para “combater na Síria” e pergunta se alguém conhece um recrutador por lá. Nas mensagens, eles pronunciam palavras em árabe e trocam imagens de armas e vídeos que mostram execuções perpetradas pelos terroristas do EI. Também manifestam ódio aos xiitas — os membros do EI são muçulmanos sunitas. Os suspeitos presos na operação batizada de Hashtag são, na maioria, cidadãos de baixa renda que vivem na periferia das capitais.

Depois dos atentados em Orlando e Nice, e com a proximidade da Olim­píada, a polícia brasileira achou que esse bando de amadores não podia ser desprezado. Invocou a Lei Antiterror, recém-­aprovada, e pediu a prisão preventiva do grupo, decretada pelo juiz Marcos Josegrei da Silva, titular da 14ª Vara Federal de Curitiba. Deflagrada num momento de tensão global com a ameaça de ataques, a operação provocou grande repercussão na imprensa mundial.

A ação policial está absolutamente correta do ponto de vista preventivo, mas acabou escancarando o que poucos brasileiros sabem: a disputa renhida entre a Abin e a PF pelo protagonismo no combate ao terrorismo. A Abin e a PF não se entendem, embora devessem trabalhar em parceria. Neste caso, a Abin defendia a ideia de que a “célula terrorista” continuasse sendo monitorada, sem alarde, mantendo-se a estratégia adotada em grandes eventos. Para a Abin, publicidade gera imitação. Outros grupos podem querer suplantar a atenção e promover atos ainda mais sensacionais. Além disso, a publicidade excessiva pode provocar medo, até pânico, em setores da população. Na Copa do Mundo, em julho de 2014, a Abin foi informada sobre a possibilidade de um atentado no Maracanã, inclusive com o uso de drones. Discretamente, deteve os suspeitos, fez um cerco ao estádio, bloqueou o espaço aéreo, e ninguém percebeu nada de anormal. É o que os serviços secretos chamam de “operação invisível”.

Com reportagem de João Pedroso de Campos, Caio Salles e Giulia Vidale

Um comentário:

AHT disse...

Será que agora está explicado?

Através de agentes infiltrados nos grupos em redes sociais, é evidente. Nem é preciso "grampear" os servidores do WhatsApp ou outras redes. Fácil, fácil quando se tem ajuda externa... coisa que os governos à la bolivariano do Lula e Dilma não aceitaram.

FBI enviou alerta ao Brasil sobre suspeitos de exaltar terrorismo

Dez pessoas foram presas pela suspeita de ligação com o Estado Islâmico.
Eles trocavam mensagens com estrangeiros através de redes sociais."

Fonte: http://g1.globo.com/pr/parana/noticia/2016/07/fbi-enviou-alerta-ao-brasil-sobre-suspeitos-de-exaltar-terrorismo.html



O Brasil durante os governos Lula e Dilma evitou ao máximo uma Lei Antiterrorismo do jeitinho que realmente deveria ser. Nâo apenas uma Lei, mas investimentos em recursos humanos, sistemas e recursos materiais imprescindíveis para o o combate ao terrorismo. Mas, a preocupação em preservar os braços "informais" do partido então governista teria sido o motivo para tamanho desinteresse e descaso? Agora, com o terrorismo apavorando em várias partes do mundo, um fato inédito no Brasil (prisão de 10 panacas) mostra o quanto as instituições e as autoridades não estão preparadas para enfrentar, nem mesmo avaliar e dar declarações coerentes e merecedoras de credibilidade.

Se tivessem mantido em sigilo essa operação "Hashtag" até que o quadro estivesse bem delineado, as autoridades não correriam o risco de virar piada correndo o mundo.

Esse ministro da justiça, ex-secretário de segurança de SP e alguns outros cargos, volta e meia dá umas derrapadas. O Michel Temer também não fica atrás e de vez em quando dá umas derrapadas em decisões e declarações.

Dá para entender porque Temer escolheu esse ministro... hehehe... O negócio é rir e torcer muito para que não aconteça nenhum ato terrorista em solo brasileiro, seja durante ou após as Olimpíadas 2016. Fazer o quê, né mesmo? Afinal, já estamos mais do que acostumados a ficar sempre na "torcida". Torcemos no futebol, pelas lindas meninas do vôlei e até pelos "heróis" do BBB do Bial; torcemos pelo final assim ou assado da novela, pela condenação do corrupto e absolvição do criminoso com cara e jeito de inocente; torcemos a favor ou contra o impeachment da Dilma guerrilheira velha de guerra, pela cadeia pro Cunha e pro Renan; muitos torcendo pela punição da Rose porque ela levou o Lula a ser infiel; sobretudo, torcemos pela queda da inflação e dos impostos, pela aumento estrondoso da oferta de empregos, pela melhoria da Saúde, da Educação e da Segurança Pública...

Até quando seremos meros expectadores e torcedores?