sábado, 1 de março de 2014

O Ato e o Fato


Ventos de mudança

Brasilino Neto
Bem sei que não sou nenhum jovenzinho, pois na casa do 65º aniversário, porém, não me considero impertinente, salvo em oportunidades atípicas ou que, como se diz na gíria, “me cutucam com vara curta”.

Sinto-me contrariado quando vou a restaurante e lá me é imposta a obrigação em ver televisão, que sequer em minha casa faço. O pior é que hoje, infelizmente, na maioria deles este malfadado aparelho está presente.

Já pensei horas e horas o porquê de sua colocação nestes locais, pois a entendo sem qualquer justificativa (ou decência), pois se me disponho a ir a esse estabelecimento é para conversar, distrair e não ver, compulsoriamente, televisão, notadamente quando se tratam de programação de novelas, bbb, fazendas e outras desconexões mais. 

Veja um caso que me ocorreu em 27 de dezembro de 2013, em Campos do Jordão, especificamente no restaurante Foenix, que se situa no “marco zero” da cidade, que tem seguramente cerca de quatro ou cinco aparelhos de muitas polegadas instalados. Ali saboreava um gostoso jantar com minha mulher e não havia qualquer possibilidade em não ver estes aparelhos e suas programações, pois eram onipresentes.

E sabe qual era o programa exibido? pois então saibam: “retrospectiva”, quando em dado momento foi mostrado um acidente grave entre veículos (caminhão e ônibus), com pessoas feridas e seus socorros e em seguida deslizamentos de morros com soterramentos de casas, quando em triste momento surge um bombeiro retirando, já sem vida uma criança, da lama que tomava o lugar.

Não tive dúvida, fui me ter com o maitre e o questionei esta situação e ele, num gesto de compreensão sem qualquer palavra foi ao comando e alterou a programação para um campeonato de esqui e patinação artística no gelo. Em seguida voltou à nossa mesa e pediu desculpas pela ocorrência. Isto se chama respeito e elegância. 

Outra questão que também me incomoda, que além de agressiva é desrespeitosa, é a entrega em casa de serviços de alimentação, especialmente pizza e esfirra, pois o entregador quando chega à porta do paciente, perdão, do cliente, acelera a moto e faz um buzinaço como se estivesse participando de contundente protesto contra o fim do mundo. Se demorarmos um minuto para o atendimento então, dai é um “Deus nos acuda”.

Porém, imagino que estas coisas estejam mudando (torço para isto), pois estive recentemente na aprazível em Monte Verde, em Minas Gerais, e ali encontrei diversos restaurantes que não tinham aparelhos de televisão em suas dependências, e especialmente no restaurante “Pinheiro Velho”, que além de estar neste rol de comerciantes inteligentes, ainda tocava músicas agradáveis e em volume que permitia a conversa. Digno de ser visitado e frequentado.

Quanto aos entregadores vejo que também ocorrem mudanças, pois me vali dos serviços do “Pizza 1” de Caçapava neste final de semana e, com agradável surpresa quanto o entregador chegou à porta não houve buzinaço ou irritantes aceleradas para anunciar sua chegada, mas simplesmente falou: “boa noite, entrega do Pizza 1”. Confesso que pizza entregue, além de seu bom sabor, tinha gostos saborosos de respeito, atenção e delicadeza. Parabéns ! 

Confesso também que fiquei tão feliz com os bons modos do entregador, que nem me dei conta em perguntar seu nome para depois fazer esta referência junto ao empregador. Infelizmente somente depois me dei conta deste descuido.

Assim, senhores comerciantes reavaliem seus relacionamentos com o cliente, cuide dele com respeito e atenção e creia, que quando ele quer assistir televisão, por certo fica em sua casa de pernas pro ar, e entenda que ele não foi ao seu restaurante para assistir compulsoriamente televisão, e o que é pior, no programa que você quer. Avaliem!

Um comentário:

Paulo L. disse...

Brasilino estou em pleno acordo com seu bem feito e equilibrado texto (aliás, todos são equilibrados e bem feitos). Me deixe assiná-lo com você. Fica aqui minha proposta para que procuremos um local onde não tenha esta maldita televisão e o volume da música nos permita conversar sem precisar ficar gritando, gritando mesmo e tomar um belo e delicioso chopp. Eu uns chopes e você nas suas malfadas águas. Amigo, vá beber aguá assim na casa do chapéu. Uma pena que tenhamos que ir lá em Monte Verde para fazer isto, pois aqui em Caçapava é difícil encontrar um local onde não haja televisão em suas dependências. Mas mesmo assim fica feito o convite, pago a conta e a viagem. abraços.