A revelação de que Dilma Rousseff chancelou a compra da refinaria americana de Pasadena pela Petrobras abriu uma fenda na imagem da presidente. Quem espia através da frincha enxerga o semblante de uma ex-Dilma, personagem bem diferente daquela gestora de mostruário vendida em videoclipes da campanha de 2010.
O negócio é conhecido. Eis um resumo do que sucedeu: a belga Astra Oil comprou a refinaria de Pasadena, em 2005. Pagou US$ 42,5 milhões. Em 2006, vendeu 50% da firma à Petrobras por US$ 360 milhões. As duas empresas desentenderam-se. Em 2011, após desavença judicial, a Petrobras topou pagar pelos 50% da Astra US$ 839 milhões. E se tornou a única dona da refinaria americana.
Ao se dar conta de que entrara numa fria, a Petrobras decidiu passar a refinaria nos cobres. Apareceu um mísero interessado, a empresa americana Valero. Ofereceu US$ 180 milhões. Ou seja: a estatal brasileira enterrou US$ 1,19 bilhão num negócio cujo valor de mercado corresponde a pouco mais de um décimo da cifra desembolsada. No português das ruas: um mico, hoje investigado pela PF, pelo TCU e pelo Ministério Público Federal.
Os repórteres Andreza Matais e Fábio Fabrini acabam de empurrar para dentro desse enredo de absurdos um detalhe incômodo. Dilma Rousseff aprovou a transação micada na época em que era chefona da Casa Civil de Lula e presidente do Conselho de Administraçã da Petrobras.
Procurada, a agora presidente da República, em vez de matar no peito, chutou a bola para o lado. Em nota, a ex-Dilma confirma: apoiou, sim, a aquisição do mico de Pasadena. Mas só fez isso porque se baseou em “informações incompletas” expostas num parecer “técnica e juridicamente falho”.
Chama-se Nestor Cerveró o responsável pelo parecer que fez Dilma tropeçar. Em 2006, ano da transação, ele respondia pela Diretoria Internacional da Petrobras. Que foi feito Cerveró? Ora, foi promovido. Sob ex-Dilma, Cerveró tornou-se diretor financeiro (?!?!) de serviços da BR Distribuidora, braço da mesma Petrobras. Ele foi indicado pelo PMDB, com apoio de José Dirceu, do PT.
Ex-ministra de Minas e Energia, Dilma sempre foi como uma especialista do setor. As novidades despertam na plateia uma dúvida: o que é pior: o especialista que faz muito mal o bem que faz ou um que faz muito bem o mal que faz?
Por Josias de Souza
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