Josias de Souza
No curto intervalo de um mês, a opinião de Lula sobre o número de ministérios sofreu uma guinada. Numa palestra feita na cidade de Canoas (RS) em 13 de junho, ele defendeu o gigantismo da Esplanada. Na semana passada, foi ouvido pregando o enxugamento da equipe ministerial. Entre um Lula e outro, houve mais de 1 milhão de pessoas nas ruas reivindicando menos corrupção e mais eficiência do Estado.
O Lula de um mês atrás discusou num evento chamado Fórum Mundial de Autoridades Locais de Periferia. A plateia estava apinhada de autoridades municipais do Brasil e do exterior. Num autoelogio, Lula disse que acertou ao criar o Ministério das Cidades. Antes, os prefeitos eram recebidos em Brasília “por cães pastores que mordiam os seus traseiros”, afirmou.
Em seguida, Lula resumiu a teoria da Esplanada infinita: “Por que eu posso ter um Ministério da Indústria e não ter o da Mulher? Tem de colocar pessoas específicas para cuidar de coisas específicas. Num país com uma costa marítima de 8 mil quilômetros, não faria sentido não ter o Ministério da Pesca.” Levando-se o raciocínio às últimas consequências, um Brasil com tantos casos de malversação de verbas públicas não poderia prescindir de um Ministério da Corrupção.
Lula discursou em Canoas pela manhã. Horas depois, no final da tarde do mesmo dia, o asfalto ferveria em São Paulo, provocando uma reação virulenta da PM. Nos dias subsequentes, a crise dos vinte centavos evoluiu para uma revolta pluritemática que surpreendeu o mundo. E Lula passou a defender a lipoaspiração dos ministérios (eram 26 sob FHC e somam 39 hoje). O cavalo de pau de Lula foi executado longe dos refletores. Em público, ele não faz senão autocríticas a favor.
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