sexta-feira, 1 de abril de 2011

Na delação premiada à brasileira, ninguém vai para a cadeia

O vídeo que mostra cenas de roubalheira explícita protagonizadas pela deputada federal Jaqueline Roriz e pelo vigarista Durval Barbosa, também produtor e diretor da série de filmes clandestinos, confirmou que o País do Carnaval vai consolidando mais uma assombrosa brasileirice: a delação premiada em que ninguém vai para a cadeia.

Nos países sérios, a cada delação premiada concedida a um quadrilheiro graúdo segue-se a prisão do resto da quadrilha. O acusador entra no programa de proteção a testemunhas e os acusados vão para a cadeia. No Brasil, a Justiça garante a liberdade do delinquente delator, que não se dá ao trabalho de mudar de endereço nem de identidade, e não prende os meliantes delatados.

Nesta quinta-feira, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal livrou Durval Barbosa de dois dos 20 processos que o envolvem em casos de corrupção, desvio de dinheiro público, fraude em licitações, improbidade administrativa e outras delinquências. No primeiro, a condenação a 4 anos e 7 meses de reclusão foi reduzida a 1 ano e 6 meses e, em seguida, convertida em pena alternativa. No segundo processo, a sentença foi anulada porque a redução da pena antecipou a prescrição do prazo. Assim será com os 18 papelórios que faltam.

Tamanha brandura pareceria menos ultrajante se a Justiça não fosse igualmente misericordiosa com o resto da quadrilha que enriqueceu com o chamado “mensalão do DEM”. Em menos de 10 anos, governadores do Distrito Federal, deputados distritais, secretários estaduais e desembargadores tungaram mais de 4 bilhões de reais. Repito: mais de 4 bilhões. Estão todos em liberdade.

Jaqueline Roriz livrou-se até do trabalho. Não aparece na Câmara desde o dia da estreia do vídeo na TV. Justifica o sumiço com atestados médicos que criaram outra brasileirice: a cleptomaníaca que, depois de um surto especialmente preocupante, precisa de um algumas semanas de vadiagem ao lado do marido gatuno.

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