sexta-feira, 5 de abril de 2024

Recaptura de presos de Mossoró deve ser celebrada sem os fogos


Fugitivos do presídio federal de Mossoró viajaram de barco por 6 dias do Ceará ao Pará

Sempre dá para ser otimista e enxergar o lado bom das situações, mesmo que seja preciso procurar um pouco. É a partir do entendimento sobre a importância relativa das coisas que se aprende a celebrar pequenos êxitos, como a recaptura dos fugitivos do presídio federal de Mossoró, pensando: "Se tivessem escapado para a Bolívia, seria muito pior."

Na definição do ministro Ricardo Lewandowski, a devolução dos fujões do Comando Vermelho ao cárcere foi "uma vitória do Estado brasileiro". Verdade. Mas certas vitórias também machucam. O caso potencializou a impressão de que o crime se organiza a partir da esculhambação do estado.

A segurança máxima das cadeias federais revelou-se um queijo suíço. Os criminosos escapuliram pelo vão da luminária das celas —um buraco cuja vulnerabilidade era apontada desde o governo Bolsonaro. Deixaram zonzos os mais de 500 policiais mobilizados na caçada. Auxiliados pela facção criminosa e suas franquias, cruzaram as fronteiras de dois estados.

Qualquer pessoa pode se consolar com a ideia de que pelo menos a inteligência da Polícia Federal pegou no tranco, não houve mortes e os dois fujões não conseguiram chegar ao estrangeiro. Mas uma recaptura que demorou 51 dias e custou ao contribuinte pelo menos R$ 6 milhões é uma dessas vitórias que são perdidas logo depois se vierem desacompanhadas de correções drásticas e providências complementares. Convém suspender os fogos de artifício.

Nenhum comentário: