segunda-feira, 8 de abril de 2024

Para aliados, faltaria 'coragem' a Moraes para prender Bolsonaro


Bolsonaro e Alexandre de Moraes

Poucos infortúnios são mais inquietantes do que a espera por um infortúnio. Mas a expectativa dos aliados de Bolsonaro em relação à decisão de Alexandre de Moraes a respeito da estadia do investigado na embaixada da Hungria evolui rapidamente do temor para a galhofa.

A decisão da Câmara de esticar o feriadão da Semana Santa deixou o Congresso às moscas. O bolsonarismo receava que Moraes aproveitasse o ermo legislativo para adotar a medida cautelar mais draconiana prevista no Código de Processo Penal: a prisão preventiva. O silêncio do Supremo diluiu os temores.

Neste sábado, um integrante da brigada parlamentar bolsonarista disse que "falta coragem ao Xandão". Esmiuçou seu raciocínio, compartilhado pelos colegas de bancada: "Encarcerar Mauro Cid é uma coisa. Outra coisa bem diferente é prender Bolsonaro sem uma sentença. O barulho seria grande no Congresso e nas ruas".

O parlamentar comparou a rivalidade entre Moraes e Bolsonaro a uma "desavença de pátio de colégio", sujeita a uma certa ponderabilidade cômica. "Se quisesse, Moraes poderia quebrar as pernas de Bolsonaro", afirmou, entre risos. "Mas a demora da reação compromete a seriedade da cena. É nítida a ausência de propósito. A prisão preventiva seria uma covardia injustificável."

A notícia do New York Times sobre os dois pernoites de Bolsonaro na sede da representação diplomática brasiliense do amigo ditador Viktor Orbán veio à luz em 25 de março. Moraes intimou a defesa a se explicar. E requisitou manifestação da Procuradoria-Geral da República.

A defesa sustentou que não havia razões para que Bolsonaro receasse ser preso. Portanto, seria absurdo supor que ele dormiu duas noites na embaixada húngara para ficar fora do alcance da Polícia Federal ou negociar um pedido de refúgio diplomático.

O teor do parecer da Procuradoria-Geral, encaminhado ao Supremo na última quinta-feira, permanece em segredo. Nos bastidores, diz-se que o documento do Ministério Público Federal exclui a hipótese de prisão preventiva. A posição pode ser acatada ou desprezada por Moraes, dono da palavra final.

A prisão não é única medida cautelar à disposição. Há alternativas menos gravosas. Moraes já havia ordenado o recolhimento do passaporte de Bolsonaro. Pode impor ao investigado o uso de tornozeleira eletrônica. Também pode obrigá-lo a apresentar-se semanalmente perante o Judiciário.

O bolsonarismo aposta que o ministro do Supremo optará pela inação. Avalia-se que Moraes deixará tudo como está, para ver como é que fica.



Nenhum comentário: