sexta-feira, 5 de abril de 2024

Lewandowski e Rodrigues mostram que a Polícia integra o pacto civilizatório


O ministro Ricardo Lewandowski fala em entrevita sobre a captura da dupla de Mossoró; a seu lado, Andrei Rodrigues

Os dois fugitivos de Mossoró estão de volta ao presídio. Foram capturados, como restou claro, numa operação de inteligência, conduzida pela Polícia Federal, com o auxílio da Polícia Rodoviária Federal. A fuga durou 51 dias. Não houve tiroteio, não houve mortes, não houve vazamento da operação. Mais uma vez, destaca-se o trabalho do competente e discreto Andrei Rodrigues, diretor-geral da PF. O órgão, diga-se, exibe números muito virtuosos no combate ao crime organizado.

A fuga virou um prato cheio para a extrema-direita, que acusava o ineditismo do feito em um presídio de segurança máxima, que — ora vejam! — só poderia "ter acontecido num governo do PT". Não me digam! Há cinco unidades dessa natureza no país. Duas foram entregues no primeiro mandato de Lula, em 2006 — Catanduvas (PR) e Campo Grande (MS) — e duas no segundo, em 2009: Porto Velho (RO) e Mossoró (RN). Em 2018, Temer inaugurou o de Brasília, que começou a ser construído no governo Dilma, em 2013.

Há, sim, quem conteste essa escolha, sustentando não ser a melhor maneira de enfrentar os criminosos. Não entro nisso agora. O fato inquestionável é que as duas fugas não traduzem a incompetência ou a negligência do mesmo governante que construiu quatro dos cinco presídios de segurança máxima — no primeiro mandato de Dilma, sua sucessora, começou a construção do quinto; não teve como entregar a obra porque foi deposta em 2016.

É claro que houve, quando menos, negligência na unidade de Mossoró — segundo Ricardo Lewandowski, ministro da Justiça e Segurança Pública, não se constataram sinais de conivência. A incompetência também merece punição, ainda que menos gravosa: o diretor de Mossoró, inicialmente afastado, foi agora demitido.

O assunto mereceu amplíssima cobertura da imprensa, um tanto desproporcional à gravidade, digo eu. Não importa: nessas coisas, "e foi e era e é e será" sempre assim. O Brasil não havia se tornado notavelmente mais inseguro porque dois escaparam de Mossoró. Fôssemos estabelecer uma relação racional custo-benefício, a dupla não valeria a operação deslanchada para a captura. Ocorre que o evento, por si, concorria para pôr em dúvida a eficácia de todo o sistema. Uma espécie de clamor cobrava a ampla mobilização de agentes e de recursos. E assim se fez.

Um especialista em segurança pública chegou a me dizer: "Aqueles dois vão ser presos quando se puser fim a esse estardalhaço, que dificulta tudo". E acrescentou: "Eles serão pegos pelo trabalho invisível da PF". Fato. A opinião pública, no entanto, cobrava também a ação ineficaz. E, todos vimos, criticava a... ineficácia! Bem, é jogo jogado, parte da natureza das coisas. O que importa, nesse caso, é que a PF fazia a coisa certa em silêncio.

O ministro Ricardo Lewandowski louvou o fato de que as prisões se deram sem um único tiro. Agentes e criminosos saíram ilesos. E, então, volto a Rodrigues, o diretor-geral da PF: assim deveriam ser todas as operações país afora, incluindo as empreendidas pelas forças estaduais de repressão ao crime. É certo que policiais, se necessário, têm de recorrer a armas de fogo, correndo, infelizmente, o risco de matar e de morrer. Mas o objetivo há de ser, sempre, o bom resultado com o menor dano possível para todos — inclusive, e é preciso que se diga, também para os bandidos. Matar só pode ser uma opção quando for a única.

A extrema-direita resolveu fazer da segurança pública o tema mais urgente do país — e, com isso, não estou a afirmar que inexistam problemas graves nessa área. Sabemos a que se resume a pauta dos patriotas: tiro, porrada e bomba em gente preta e pobre. Empilham-se cadáveres e pronto! Se cobrados, respondem com a desfaçatez conhecida: "Não tou nem aí".

A PF, sob o comando de Rodrigues, poderia ter optado pelo espetáculo, e poucos iriam reclamar se dois criminosos perigosos fossem mortos numa, como é mesmo?, "troca de tiros". Ultimamente, no Brasil, sabemos que há gente trocando tiros de costa, à queima-roupa, na cara...

Não! Os agentes federais e os capturados saíram sem arranhão. Os primeiros continuarão a combater o crime. E os outros irão para a cadeia. A polícia também faz parte do pacto civilizatório, coisa que Tarcísio de Freitas e Guilherme Derrite, por exemplo, ainda não aprenderam. Preferem caçar votos na barbárie.

Parabéns a Andrei Rodrigues e ao ministro Ricardo Lewandowski!

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