terça-feira, 14 de março de 2023

Rachadinhas, CPI da Covid e estrutura paralela: outras vezes em que a Abin foi acusada de operar irregularmente


Roberto Dias presta depoimento na CPI da Covid

Documentos e relatos de servidores apontam que agência de inteligência vigiou localização de até 10 mil pessoas através do celular. Escândalo entra em lista de casos recentes

Agência Brasileira de Inteligência (Abin) operou um sistema secreto de monitoramento da localização de cidadãos em todo o território nacional durante os três primeiros anos do governo Bolsonaro. É o que apontam documentos obtidos pelo GLOBO e relatos de servidores. A ferramenta permitia, sem qualquer protocolo oficial, monitorar os passos de até 10 mil proprietários de celulares a cada 12 meses: bastava digitar o número de um contato telefônico no programa e acompanhar num mapa a última localização conhecida do dono do aparelho. A prática suscitou questionamentos dentro do órgão. Procurada, a Abin disse que o sigilo contratual a impede de comentar.

Durante os quatro anos do governo de Bolsonaro, a agência de Inteligência passou por pelo menos outros quatro casos irregulares. Relembre:

Rachadinhas

Queiroz foi assessor legislativo de Flávio durante seus mandatos na Alerj — Foto: Reprodução

Durante a maior parte do governo Bolsonaro, a Abin foi chefiada pelo delegado da Polícia Federal Alexandre Ramagem, que coordenou o esquema de segurança do presidente na campanha de 2018. À frente da agência, Ramagem mantinha contato direto com o então mandatário e seus filhos. Em 2020, a revista Época revelou que a Abin teria produzido ao menos dois relatórios de orientação para o senador Flávio Bolsonaro e seus advogados no pedido de anulação da investigação do escândalo das rachadinhas. A autenticidade e procedência foram confirmadas pela defesa do senador.

Negócios de Jair Renan

Jair Renan Bolsonaro acompanhado do advogado Frederick Wassef — Foto: Cristiano Mariz / Agência O Globo

No ano passado, O GLOBO mostrou que um agente disse à PF que recebeu missão extraoficial para levantar informações de negócios envolvendo Jair Renan, o filho mais novo do presidente. Flagrado numa operação, o agente admitiu em depoimento que recebeu a missão de levantar informações de um episódio relacionado ao "04", sob apuração de um inquérito da PF. Segundo o espião, o objetivo era prevenir "riscos à imagem" do chefe do Poder Executivo.

Atuação na CPI da Covid

Durante a CPI da Covid, a Abin teria atuado para levantar informações sobre irregularidades nos estados e municípios relacionadas à pandemia, conforme revelou a revista Crusoé. O objetivo era mudar o foco dos trabalhos da comissão parlamentar.

Estrutura paralela

O ex-chefe da Abin Alexandre Ramagem — Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo

Diante dos episódios, que não foram registrados no banco de relatórios da Abin, Alexandre Ramagem passou a ser acusado de montar estrutura paralela de apuração de casos de interesse de Bolsonaro. Em 2021, ele foi convocado para ir à Câmara dos Deputados e negou irregularidades:

— Primeiro, se tiver algo paralelo na Abin, tem que ter um servidor atuando de forma ilícita ou a utilização do sistema de forma ilícita. Portanto, condenável. E nós apuramos e, até o momento, pelo contrário, demonstramos que não tem. Nós não fazemos monitoramento de pessoas.

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