O PT descobriu da pior maneira que toda ideologia tem que ser baseada num orçamento. Sob a presidência de Gleisi Hoffmann, a legenda foi à breca. E promove um ajuste que aproxima a retórica socialista de um receituário típico do liberalismo clássico. Inclui uma busca sôfrega por novas fontes de receita e corte de gastos. A tesoura não poupará nem a folha salarial dos trabalhadores do Partido dos Trabalhadores.
Noutros tempos, o PT talvez recorresse a Delúbio Soares e João Vaccari, os magos da tesouraria anabolizada da era do mensalão e da fase do petrolão. Mas os companheiros que tiravam coelhos das cartolas foram retirados de circulação. E o partido viu-se compelido a informar que terá de tirar cartolas de dentro dos coelhos.
"Faz-se necessária a adoção de medidas para equilibrar as finanças, saldar as dívidas, manter as atividades partidárias e, assim, garantir a saúde financeira do partido, bem aplicando os recursos públicos do Fundo Partidário colocados à sua disposição", escreveu o PT em nota oficial assinada por Gleisi Hoffmann e Emidio de Souza, o secretário nacional de finanças.
O documento não menciona valores. Mas acomoda a caixa registradora do partido num cenário de franca penúria. "As reservas financeiras mantidas pelo PT esgotaram-se nas campanhas de 2018, em especial na campanha presidencial", informam Gleisi e Emidio. A campanha deixou "dívidas" com potencial para impor "grande impacto nas finanças partidárias." No momento, a legenda sobrevive com o dinheiro público do Fundo Partidário, que é "insuficiente para a manutenção de suas atividades".
Como se fosse pouco, o PT dá de barato que "sofrerá sanções do Tribunal Superior Eleitoral". O partido sabe o que fez no verão passado. Por exemplo: despejou dinheiro público na candidatura presidencial deLula, um presidiário inelegível. Agora, vive a síndrome econômica do que está por vir. Coisa suficiente para promover "significativa redução dos recursos disponíveis."
Para baixar a coluna das despesas, o PT decretou a suspensão de viagens e hospedagens pelo menos até o final de janeiro, devolução de prédios alugados, enxugamento dos contratos de mão de obra terceirizada e até uma "revisão da folha de pagamento do Diretório Nacional". A lâmina atingirá "funcionários e dirigentes." Um ajuste assim, de contornos ortodoxos, seria facilmente avalizado por Paulo Guedes, o Posto Ipiranga de Jair Bolsonaro.
Num esforço para elevar a coluna das receitas, o PT correrá a sacolinha em campanhas de arrecadação online e apelará à consciência partidária dos seus parlamentares, dos companheiros que ocupam cargos comissionados na máquina estatal e dos filiados. Nesse ponto, o ajuste petista será prejudicado pela chegada de Bolsonaro ao Planalto. A equipe de transição do capitão organiza um programa de "despetização" das poltronas de segundo e de terceiro escalão. Algo que reduzirá o público-alvo do chapéu petista.
Além do ajuste financeiro, o PT decidiu submeter-se e um programa de compliance, um termo que vem do verbo da língua inglesa "to comply". Significa agir segundo as regras. Coisa parecida foi adotada por empreiteiras desmascarada na Lava Jato, como a Odebrecht, para ajustar suas práticas às leis e às normas dos órgãos governamentais de controle. Sinal dos tempos.
Por Josias de Souza
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