sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

PIZZA PRÓ-BOLSONARO?


Fabrício Queiroz: devemos todos torcer para que se recupere, mas
interesse público diz que sua doença torna o depoimento mais urgente

Nunca ninguém havia tido esta suspeita antes, mas agora está confirmado: o Ministério Público tem coração. Ao menos o Ministério Público do Rio — refiro-me ao Estadual. Com a devida vênia, até me corrijo um pouco. Eu já suspeitava disso ao menos excepcionalmente. Ou Sérgio Cabral não teria ido tão longe, não é mesmo? No caso do ex-governador, parece que também o MPF, na seção fluminense, estava um tanto inebriado pelos sucessos e eventos de que aquele político era protagonista. Se a gente acrescentar o adesismo de certa imprensa carioquista ao frenesi cabralino, com Copa do Mundo e Olimpíada então pela frente, temos contada a história do “Rei Caído do Rio”: entre o palácio e Bangu 8. E por que começo este texto apontando o coração mole do MP do Rio?

O órgão resolveu emitir uma nota atestando que Fabrício Queiroz, o ex-suposto motorista de Flávio Bolsonaro, vai passar por uma “cirurgia urgente”. É aquele senhor que estava lotado até outubro no gabinete do deputado estadual e senador eleito e que, em entrevista, declarou uma habilidade que o faria um bom candidato ao cargo de Paulo Guedes: ele disse que sabe “fazer dinheiro”. Já chego lá.

Queiroz faltou a dois depoimentos marcados pelo Ministério Público para explicar como conseguiu movimentar R$ 1,2 milhão entre janeiro de 2016 e janeiro de 2017. A promotoria informa que ele apresentou atestados que “comprovam grave enfermidade”. E emendou: “Seus advogados informaram ainda que Queiroz estará à disposição para prestar depoimento tão logo tenha autorização médica”. O ex-auxiliar de Flávio Bolsonaro afirma estar com câncer.

Obviamente, não vou duvidar de que esteja doente. E torço para que o tal senhor se recupere, que é o que faço com toda gente. Mas não Jair Bosonaro, por exemplo. Em 2015, indagado se Dilma concluiria seu mandato, ele disparou a seguinte delicadeza: “Eu espero que acabe hoje, infartada ou com câncer”. Não é sentimento decente, que se deva alimentar. Se presente, não é algo que deva ser vocalizado. Voltemos ao ponto.

Pergunta: Queiroz pediu aos médicos, que o proíbem de prestar depoimento ao Ministério Público, autorização para conceder a entrevista ao SBT? Ou, nesse caso, ele atuou por conta própria? Mais: desde que, se necessário, com a devida assistência médica, o que o impede de prestar depoimento?

Eu estou enganado ou, no que concerne ao interesse público passado e futuro — já que o assunto diz respeito, queiramos ou não, àquele que será presidente a partir de 1º de janeiro —, o fato de Queiroz estar sujeito a uma intervenção que comporta algum risco torna seu depoimento ainda mais urgente e inadiável?

A promotoria informa ainda: “Outras diligências já anunciadas estão previstas para ocorrer, entre as quais a possível oitiva do deputado estadual Flávio Bolsonaro, sugerida para o dia 10 de janeiro. No mais, o caso permanece sob total sigilo”. É, permanece mesmo! Até agora, nada de vazamento, não é? O provável é que nem haja o que vazar por falta de investigação.

Por Reinaldo Azevedo

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