É o que vem ocorrendo com o Brasil, em especial, nos últimos 50 anos. Tome-se probabilidade no sentido dado pela linguagem usual: chance. Sem adereços matemáticos.
O Brasil vem desafiando frequentemente a chance de dar certo, correndo o risco de dar errado e, como nos seriados, termina dando, mais ou menos, certo. Isto porque muda. Segundo alguns analistas, muda por saturação.
Sem contar com o Estado Novo, o Brasil saturou de regimes autoritários; operou uma complicada transição política, marcada pela tragédia da morte de Tancredo; escreveu, com solidez pétrea, regras democráticas que prevaleceram a dois impeachments e graves crises conjunturais. O que era improvável – a democracia política – tornou-se um patrimônio da sociedade brasileira.
Em matéria de inflação, o Brasil é um caso exemplar de resistência à devastação da desordem econômica que derrotou seis planos de estabilização. No limite, o “improvável Presidente”, como se autodenomina o próprio FHC, fez valer um engenhoso plano, o Real; dominou a inflação e abriu novos caminhos de possibilidades para uma economia estável, previsível e próspera. A sociedade brasileira não suportava mais a zoada das máquinas, remarcando diariamente o preço das mercadorias e os assalariados perdendo poder de compra para o calendário. Estávamos saturados.
Na sequência, o imigrante nordestino se transformou na maior liderança popular do país; manteve a estabilidade econômica; surfou nos bons ventos da economia internacional e elegeu a maior fraude política da história: Dilma Rousseff.
Crescimento econômico mais políticas compensatórias fizeram a festa de consumo dos emergentes. O Brasil decolou? De repente, a “Presidenta” pensou que entendia de economia. Um desastre.
De outra parte, o antigo vício da corrupção assumiu proporções gigantescas. Sistêmica. Organizada. Como um tsunami, não poupou o tesouro; penetrou no cofre das estatais; quebrou a União, Estados e Municípios. Escandalosamente. E em regra, obedecido o devido processo legal, foram presos e condenados poderosos e celebridades, personagens do “café society”, diria Ibrahim Sued. A corrupção e a impunidade atingiram o ponto de saturação.
O país está diante do futuro depois de uma eleição e um presidente eleito improváveis. Vai dar certo? Com a palavra, tarólogos e astrólogos. O novo governo recebe uma herança razoável: inflação dentro da meta, câmbio estável, recuperação lenta da economia.
Saturação: um Estado monstruosamente deficitário, ineficiente, e que suga, em tributos, mais de um terço da renda da sociedade. Sem ajuste fiscal, não há salvação.
Por Gustavo Krause
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