segunda-feira, 12 de março de 2018

Rodrigo Janot é mesmo um fanfarrão de quinta categoria


Janot se encontra em boteco com Pierpaolo Bottini, advogado de Joesley Battista, 
que havia conseguido tudo com o então procurador-geral, muito especialmente 
a impunidade (Reprodução: O Antagonista)

Rodrigo Janot é mesmo um fanfarrão de quinta categoria. E demonstra não ter senso de ridículo. Compartilhou no Twitter uma nota publicada no jornal O Globo, segundo a qual, em seus meses à frente da Procuradoria-Geral da República, Raquel Dodge ainda não fechou nenhum acordo de delação premiada. O botequeiro aproveitou, também, para censurar o encontro havido no sábado entre o presidente Michel Temer, e Cármen Lúcia, que preside o Supremo. Temer foi à casa da ministra. Então vamos ver.

A página que publicou a cobrança feita a Dodge, que Janot endossou, é a mesma que divulgou o “furo” que nunca existiu, a saber: Temer teria dado aval a Joesley Batista para comprar o silêncio de Eduardo Cunha. Lembram-se disso? O dito aval não estava na gravação, era uma invenção, que saiu das catacumbas da PGR de Janot para a imprensa. O “aval” inventado, a “fake news” de Janot, era o centro de uma articulação para derrubar o presidente Michel Temer. A reforma da Previdência, por exemplo, começava a morrer ali.

É de uma ousadia espetacular que aquele que entregou tudo aos irmãos Batista — na verdade, negociou com eles a impunidade em troca da entrega das respectivas cabeças dos presidentes da República e do PSDB, Michel Temer e senador Aécio Neves — venha agora posar de moralizador, fazendo exigências à sua sucessora. Foi o jeito de Rodrigo Janot conduzir delações que quase levou o país ao abismo. De tal sorte foram dolosos os procedimentos que as delações dos Batistas e sua turma estão suspensas, e só falta agora que Edson Fachin, o relator, homologue o fim da patuscada.

Raquel Dodge está falhando, sim, mas de um modo distinto. Cumpre saber quando a atuação de Janot no caso da delação dos irmãos Joesley e Wesley será investigada. Até agora, não se tem notícia de nada. Já resta evidente — e comprovado — que o ex-procurador Marcelo Miller atuou ao mesmo tempo como auxiliar do então procurador-geral e como advogado da JBS.

Assim, é mesmo do balacobaco que Janot, que deveria estar sendo investigado, faça cobranças sobre investigações.

Temer-Cármen
Setores da imprensa e moralistas de meia-pataca censuram o encontro entre Michel Temer e Cármen Lúcia — ele foi à casa dela no sábado, não o contrário. Por que o berreiro? Porque a conversa não constava da agenda de ambos. E daí? Todos sabem que um encontro como esse não fica jamais à escondidas. Tampouco era essa a intenção. No dia em que o chefe do Poder Executivo não puder se encontrar com a chefe do Poder Judiciário, bem, aí o país estará mesmo perdido. Eu me nego a fazer qualquer especulação sobre o que conversaram ou não.

Não custa lembrar. Existe uma lei que prevê a obrigatoriedade da divulgação da agenda. É a 12.813, que trata de conflitos de interesses. Os respectivos presidentes dos Três Poderes não estão entre as autoridades obrigadas a tornar públicos seus compromissos. Logo, o encontro, que imoral não é, desde sempre, também não é ilegal.

Mas Janot resolveu tirar a sua casquinha, não é? Escreveu ele: “Causa perplexidade que assuntos republicanos de tamanha importância sejam tratados em convescotes matutinos ou vespertinos”.

Ah, como esquecer? Em setembro de 2017, Janot foi flagrado num boteco, na periferia de Brasília, em companhia de ninguém menos do que Pierpaolo Bottini, advogado de Joesley. À diferença do que ocorre com Temer e Cármen — que não têm como esconder o encontro — o bate-papo do procurador-geral que, havia garantido a impunidade ao empresário, com o advogado que representava o chefão da JBS deveria ter permanecido secreto. Ocorre que alguém flagrou o tête-à-tête, mediada por cerveja — uma exceção na vida de Janot: ele prefere uísques no plural.

É estupefaciente que Janot, um dos artífices da crise política que ameaça devolver o país ao buraco de onde Temer o retirou, esteja por aí a expelir regras.

Por Reinaldo Azevedo

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