Lisboa - Os tentáculos da Odebrecht atravessaram o Atlântico e envolveram a principal empresa de Portugal, a EDP e seu Presidente, António Mexia. É possível que a Lava Jato venha a ter algum trabalho no país, mas não será o primeiro. Há dois anos, aterrissou em Lisboa, apelidada de Polimento, atrás do então brasileiro-luso, Raul Schmidt, acusado de ser operador de falcatruas da Petrobras. Com cidadania adquirida em 2011, Schmidt foi preso, solto com tornozeleira eletrônica e novamente deixado em liberdade, até o Tribunal da Relação decretar sua extradição, não executada naquele momento devido a confusões administrativas de uma juíza.
Desde então a novela se desenrola. Em janeiro passado, Schmidt conseguiu, em tempo recorde, tornar-se brasileiro-luso original, ou seja, ser considerado português de nascença. Protegido pela nova condição, requereu ao Supremo Tribunal de Justiça a revisão da sentença que o mandava de volta ao Brasil para ser julgado alegando que nenhum português pode ser extraditado. Até agora, o Supremo não decidiu se vai ou não o atendê-lo.
Enquanto isso, os meios politico e empresariais entraram em ebulição com a bomba lançada pela reportagem da jornalista Cristina Ferreira, no jornal Público, afirmando que a EDP pagou bônus de quase 20 milhões de euros a construtoras investigadas na Lava-Jato e que ganharam a licitação para construir a Barragem do Baixo Sabor, em Trás-os-Montes. O consórcio Elos foi montado pela Odebrecht com a portuguesa Lena Engenharia e Construções SA, sem experiência no setor e má fama, durante o governo do ex-Primeiro Ministro José Socrates, que já passou 9 meses na cadeia e ainda responde a diversos processos.
Durante relatos aos procuradores das Lava Jato, Maria Lúcia Tavares, que era responsável pelo Setor das Operações Estruturadas da Odebrecht, o das propinas, afirmou ter feito seis transferências de suborno pagas no âmbito das obras da Barragem do Baixo Sabor. A informação já foi incluída em investigações que vêm sendo feitas em Portugal e está deixando nervosas muitas pessoas até agora consideradas intocáveis.
Nesta terça-feira (21), o jornal português publicou, como direito de resposta, explicações da EDP.A empresa afirma que o consórcio ganhou a obra porque sua proposta era a mais competitiva, era capaz de garantir a boa execução dos trabalhos e possuía as qualificações técnicas necessárias. Na fase de conclusão do contrato, admitiu, a Elos considerou ter direito a pagamento adicional de 20 milhões de euros, mas a EDP só pagou 13 milhões. E acrescenta que a decisão não foi do seu presidente, António Mexia, pois o contrato foi celebrado entre o consórcio e a EDP Produção. Mas como todos sabem, Mexia manda em tudo.
Finalmente, o comunicado desmente ter António Mexia estado com Marcelo Odebrecht no dia 11 de setembro de 2013, no Rio de Janeiro, como teria afirmado a jornalista Cristina Ferreira. Naquela data, Mexia deveria receber prêmio da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria, mas lá não apareceu alegando reunião com o primogênito da família Odebrecht. A jornalista rebate afirmando ter publicado apenas que ele iria ao encontro do Marcelo, mas sem dizer se no Rio de Janeiro ou em outro lugar qualquer.
António Mexia é dos mais influentes nos meios empresariais de Portugal e acabou de ser reconduzido para mais um mandato à frente da EDP. É poderoso e tem amigos igualmente poderosos nas diversas áreas da vida portuguesa. Recentemente, sofreu duro golpe quando foi considerado arguido, juntamente com outro diretor da empresa, João Manso Neto, no processo do Departamento Central de Investigação Penal e Ação Penal - DCIAP- que investiga eventuais crimes de corrupção e participação em negócios na área da energia. Também foram feitas buscas na sede da EDP. O roteiro lembra alguma coisa?
Por Diário do Poder
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