Lula perdeu a aura de invulnerabilidade. Seu prestígio é estilhaçado pela mesma conjuntura que despedaça os poderes de Dilma Rousseff. Pesquisa feita pelo Ibope atesta algo que o próprio Lula havia constatado dias atrás: criador e criatura encontram-se “no volume morto”.
Se tivesse de medir forças num embate eleitoral contra o tucano Aécio Neves, Lula prevaleceria hoje apenas entre os eleitores que ganham um salário mínimo e que têm até quatro anos de estudo. E a região Nordeste seria o único pedaço do mapa do Brasil em que o mentor de Dilma ficaria à frente do rival tucano.
A combinação tóxica de duas crises —a econômica e a moral— mandou para o beleléu uma premissa cultivada pelo ex-ministro petista Gilberto Carvalho. Sempre que a oposição se açanhava, Gilbertinho, como é conhecido na intimidade, aconselhava comedimento e recitava sua máxima: “Temos um Pelé na reserva.”
Ouvida pelo Ibope, a arquibancada informa que não é boba. Sabe que não há Dilma sem Lula. E vice-versa. Realizada na segunda quinzena de junho e divulgada neste sábado pelo Estadão, a sondagem revela que Aécio venceria Lula num hipotético segundo turno por 48% a 33%. Ou 59% a 41% numa conta que inclui apenas os votos válidos, sem os indecisos e os que dizem não votar em nenhum dos dois.
Dividindo-se o eleitorado em pedaços, Aécio aparece à frente de Lula nas segmentações por sexo, idade e tamanho do município. O eleitor de salário mínimo ainda prefere, majoritariamente, o petista. Mas acima desse patamar o tucanato cresce na proporção direta do tamanho do bolso do eleitor.
Na faixa de um a dois salários mínimos, Aécio amealha 53% dos votos válidos, contra 47% atribuídos a Lula. A distância entre os dois vai aumentando até chegar a 72% a 28% no estrato que recebe mais de cinco salários mínimos.
Nas duas eleições presidenciais em que triunfou —2002, contra José Serra; e 2006, contra Geraldo Alckmin—, Lula arrastou para as urnas cerca 61% dos votos válidos. Quer dizer: no deslizamento que o conduziu do auge para o “volume morto” (41% no embate direto com Aécio), Lula emagreceu 20 pontos percentuais.
Assim como a água do Sistema Cantareira, o nível do prestígio de Lula pode voltar a subir. Mas para que isso ocorra é preciso que o governo Dilma derrame sobre a vida dos eleitores uma chuva torrencial de boas notícias. E o que se enxerga no horizonte, por ora, é recessão, mais desemprego e inflação resistente.
Tudo isso e mais a Operação Lava Jato, que invade as arcas eleitorais de Dilma e Lula. Nessa secura de boas notícias, não resta ao eleitor senão emitir os seus trovões e raios que os partam.
Não se sabe quem será o Lula que entrará em campo quando a bola rolar. Mas hoje ele é um jogador confuso. Em 2010, Dilma era um poste. Hoje, é uma cruz que seu criador carrega. As velhas táticas —o ‘nós-contra-eles’, o ‘nunca antes na história…’— viraram lances de time de segunda divisão. No momento, quem está no banco de reservas é um zagueiro de time de várzea, não um Pelé.
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