Fernando Collor de Mello passou da imoralidade para a amoralidade sem o estágio intermediário de pelo menos algo para chamar mais tarde, numa conversa com os netos, de ‘bons tempos’. Escorraçado da Presidência da República, Collor purgou seu degredo político no circuito Miami-São Paulo-Maceió. Depois, elegeu-se senador, converteu-se aos inimigos, virou lulista de mostruário e achegou-se à Petrobras.
Pilhado pela Operação Lava Jato comendo com as mãos dentro dos cofres da BR Distribuidora, Collor recebeu nesta terça-feira em seus endereços residenciais e comerciais visitas da Polícia Federal. Confiscaram-lhe os carrões. Não gostou. Em nota, tachou a ação da PF de “invasiva e arbitrária”. Curioso, muito curioso, curiosíssimo. Indicar prepostos para invadir uma subsidiária da Petrobras pode! Investigar a suspeita de assalto é arbitrariedade.
Collor se queixa de não ter sido ouvido pelos investigadores. Logo perceberá que, numa investigação policial, o tempo é senhor da razão. Será inquirido apenas quando todos os indícios já tiverem cara de provas. Para Collor, o objetivo das autoridades é o de constrangê-lo. Não se deu conta de que, nessa seara, constrangimento maior é a impunidade. Batida policial com autorização do STF é evidência da vitalidade de uma democracia que começa a evoluir do crime para o castigo.
Na valiosa opinião de Collor, a ação “invasiva traduz os tempos em que vivemos, em que o Estado policial procura se impor ao menoscabo das garantias individuais seja do ex-presidente, do senador da República ou do simples cidadão.'' No vácuo moral em que o investigado se habituou a viver deve ser mesmo doloroso verificar a que ponto chegou o Brasil. Um ponto em que a investigação acima de certo nível de poder e renda vai deixando de ser uma coisa antinatural.
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