Faça de conta que Marina Silva se elegeu presidente da República para suceder Dilma Rousseff. E que mesmo acusada durante a campanha eleitoral de ser refém do sistema financeiro, tenha convidado Neca Setúbal, herdeira do Banco Itaú, para ministra da Fazenda.
Neca agradeceu o convite, mas o recusou, alegando compromissos com o banco. Em compensação, indicou para seu lugar um graduado funcionário do Itaú. E por meio de nota oficial, elogiou-o no dia do anúncio do seu nome como futuro ministro da Fazenda.
Em um caso assim, como reagiria o PT e as demais forças políticas derrotadas há tão pouco tempo? Silenciariam por reconhecer que Marina não tinha melhor opção para promover os ajustes reclamados pela economia? Ou a acusariam de fazer o que negara antes?
Troque o nome de Marina pelo de Dilma. O de Neca Setúbal pelo de Luiz Fernando Trabuco, presidente do Bradesco. E chame o novo ministro da Fazenda de Joaquim Levy, ex-diretor do Bradesco, ex- funcionário do FMI, doutor pela ultraortodoxa Universidade de Chicago.
Terá sido por isso que Dilma suspendeu na semana passada o anúncio oficial do nome de Levy, deixando-o exposto a ataques do PT? Ou terá sido por isso que ela não quis anunciar, ontem, os nomes de Levy, Nelson Barbosa (Planejamento) e Alexandre Tombini (Banco Central)?
É como se Dilma tivesse dito com seu gesto: bem, estou fazendo tudo o que os meus críticos diziam que era para ser feito. Tudo o que Aécio Neves prometia fazer caso se elegesse. Reservo-me, porém, o direito de mais adiante interferir se discordar dos resultados.
Guido Mantega, atual ministro da Fazenda, foi piedosamente poupado de participar da rápida e modesta solenidade que marcou no Palácio do Planalto a recepção aos novos ministros. Em nota, Dilma referiu-se a ele como “o mais longevo” ministro da Fazenda. Levy fez o mesmo.
Longevo, em si, não quer dizer nada. Mantega pode ter sido o mais longevo ministro da Fazenda dado à sua competência. Ou o mais longevo porque não ousou tentar contrariar os seus chefes. Por uma coisa mereceria ser elogiado. Pela outra, não necessariamente…
Desde já, reserve-se para Dilma o prêmio de presidente mais original da história recente do país – o único a dispor de dois ministros da Fazenda ao mesmo tempo. Um, demitido por ela, mas que ainda não saiu do governo. E o outro, anunciado, mas que ainda não entrou.
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