O macaco sem pelo aprendeu a andar ereto, desenvolveu um cérebro que consome 20% da energia corporal e, impulsionado por ele, evoluiu a ponto de, na semana passada, instalar um robô espacial na superfície de um cometa do tamanho de um terço da Ponte Rio-Niterói, viajando no espaço 100 vezes mais rápido do que uma bala de fuzil. É um feito extraordinário para uma espécie que, se a idade da Terra fosse de 24 horas, estaria perambulando pelo planeta há apenas 1 segundo. Nada nos fascina mais do que a água, a base da vida. Estamos sempre em busca dela. Nunca foi encontrada em forma líquida (e estável) fora do nosso oásis azulado que orbita o Sol. Nosso corpo é 60% água. Nosso cérebro, 75%. Sem ela, morremos em três dias. Sem ela não seríamos. Por isso, olhamos para o céu noturno e enxergamos estrelas, mas buscamos água.
“Foi um grande passo para a civilização”, celebrou Jean-Jacques Dordain, diretor-geral da ESA, a agência espacial europeia, depois de o primeiro sinal emitido pelo Philae chegar ao controle da missão na cidade alemã de Darmstadt, às 17h01 de quarta-feira passada (14h01 no horário de Brasília). Viajando à velocidade da luz, a mensagem levou 28 minutos para alcançar a Terra — 28 minutos de tensão até terem certeza do sucesso da aterrissagem no 67P Churyumov-Gerasimenko, o Chury, chamado assim em homenagem aos astrônomos ucranianos que o identificaram pela primeira vez como um cometa, em 1969. A identificação alfanumérica 67P é anterior a 1969, quando o agora cometa aparecia nos documentos da União Astronômica Internacional (IAU) apenas como mais um dos centenas de milhares de pequenos corpos celestes genéricos que orbitam o Sol — que podem ser planetas-anões ou asteroides. Quando era apenas o 67P, o hoje Chury despertava pouco ou nenhum interesse na comunidade científica. Asteroides e planetas-anões são corpos estéreis, compostos apenas de rochas e poeira cósmica. Já os cometas são misteriosas formações de gelo sobre rochas que irradiam luz quando sua órbita os leva muito perto do Sol. Cometas contêm água e, quem sabe, formas microscópicas de vida.
A Rosetta, que carregou o módulo de pouso Philae, foi lançada há dez anos pela ESA. É magnífico pensar que uma tecnologia de uma década atrás — espaço de tempo considerável se se levar em conta a toada cada vez mais rápida dos avanços científicos — concretizou um dos maiores marcos da história da exploração espacial.
Revista Veja
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