O advogado Franz de Castro, que morreu em tiroteio entre detentos e policiais numa rebelião na cadeia de Jacareí, a 82 km da cidade de de São Paulo, em 1981, pode virar santo. A beatificação dele vai ser por martírio e já está na fase dos depoimentos.
Castro trabalhava no interior de São Paulo e pode seguir o caminho trilhado por Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro.
- Ele contagiava com seu jeito simples de ser, com sua sabedoria e com seu viver cristão - afirma o padre José Cândido Pereira.
- Ele era muito bom, muito atencioso, nota 10 pra ele - avalia a dona de casa Terezinha Ribeiro.
Castro foi feito refém numa rebelião em que, além dele, outras seis pessoas morreram: cinco presos e um policial militar. Mário Ottoboni era diretor de um presídio e foi testemunha da morte do amigo.
- Foi a coisa mais triste que aconteceu na minha vida. Preferia estar com ele na hora pra morrer com ele, porque depois que eu vi ele morto, ele tomou 30 e tantos tiros - lembra Ottoboni.
Franz de Castro nasceu em Barra do Piraí, no Rio de Janeiro. Aos 20 anos foi morar com a tia em São José dos Campos, interior de São Paulo. Quando formou-se advogado, Franz passou a dar assistência jurídica e espiritual a detentos de presídios da região.
O padre José Cândido Pereira, que também era amigo de Franz, não tem dúvida de que ele foi um mártir.
- Ele ofereceu a vida. Então se chama martírio. Aí o Vaticano viu que poderia ser de fato um caminhar de oferecer-se a Deus através dos irmãos, ao doar sua própria vida - disse Pereira.
Todos que tiveram contato com Franz de Castro estão sendo chamados para prestar depoimento pela Igreja. O processo é sigiloso. Se depois de analisar os documentos produzidos no Brasil, o Vaticano reconhecer que houve o martírio, Franz de Castro já pode ser declarado beato pelo Papa. A partir daí, o caminho para a canonização é longo e difícil. Será preciso a comprovação de um milagre.
Francisco Cruz de Oliveira, diretor da Santa Casa de Barra do Piraí, diz que Franz já fez um milagre. Em agradecimento, limpa todos os dias o túmulo do advogado no cemitério da cidade. Ele diz que a UTI do hospital voltou a funcionar depois de anos fechada.
- Um dia eu disse: 'vou pedir ao Franz para interceder junto aos corações supremos em favor da Santa Casa'. E comecei a fazer as minhas orações. Eu posso chamar de milagre sim porque foi pedido com muita fé - conta Francisco.
O santinho do advogado mártir já está sendo distribuído em Barra do Piraí e em São José dos Campos.
O Brasil tem quatro beatos em processo de canonização por martírio: a menina Albertina, morta aos 12 anos de idade depois de uma tentativa de estupro em Santa Catarina; o padre espanhol Emanuele González e o coroinha Adílio Daronch, assassinados numa disputa por terras, no Rio Grande do Sul; e a irmã Lindalva, do Rio Grande do Norte, morta por um preso em 1993.

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