terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Éden tributário potencializa a industrialização da fé no país


Imagem: O ex-presidente Jair Bolsonaro teria tentatado dar um golpe de Estado, segundo 
o relatório da CPMI dos Atos Golpistas. Foto: Tania Rego/Agência Brasil

Igrejas e sonegadores que arrancam do Estado privilégios fiscais ou rolagens de dívidas na modalidade Refis dividem os brasileiros em duas categorias: a dos idiotas e a dos espertos. Os idiotas pagam seus tributos em dia. Os espertos levam a Receita no beiço. Autuados, cavam no Congresso anistias fiscais e prorrogações de débitos tributários.

Pela Constituição, igrejas não deveriam pagar impostos. Mas certos templos, sobretudo os mais incertos, viraram conglomerados empresariais. Distribuem lucros a pastores e líderes religiosos. Ao farejar os pecados, a Receita cobrou dos templos contribuição previdenciária e imposto sobre o lucro líquido. Em plena pandemia, a bancada da bíblia enfiou dentro de um projeto de lei um artigo que passou na borracha as autuações do Fisco. Coisa de R$ 1,2 bilhão.

O então ministro Paulo Guedes (Economia) recomendou o veto. Bolsonaro atendeu. Mas correu às redes sociais para ajoelhar no milho: "Caso fosse deputado ou senador, por ocasião da análise do veto, [...] votaria pela derrubada do mesmo." O veto presidencial caiu na Câmara por 439 votos a 19. No Senado, 73 a 1. Bolsonaro deu graças a Deus pela derrota.

Era março de 2021. Dias antes da derrubada do veto, o Datafolha revelara que a maioria dos brasileiros (54%) reprovava a atuação do presidente na pandemia. Entre os evangélicos, a avaliação negativa subira de 33% para 44% em três meses.

Deus criou o céu e a Terra, o dia e a noite, e deu nome às plantas, aos bichos e às coisas. Logo percebeu que era preciso dar nome também às perversões e aos privilégios. Sentindo-se despreparado para a tarefa, Deus criou os pastores, que chamaram esperteza de "justiça tributária."

Resta ao idiota que paga seus tributos em dia declarar-se extinto como pessoa física e reivindicar uma inscrição de entidade religiosa. Dos mais de 30 mil CNPJs de igrejas existentes no Brasil cerca de 10 mil estão pendurados na dívida ativa. O futuro a Deus pertence. Mas as dívidas fiscais pretéritas das igrejas são perdoadas por obra e graça do Tinhoso.

Nenhum comentário: