terça-feira, 24 de outubro de 2023

Castro arrasta gestão Lula para fogueira da 'segurança' no Rio



Para cada problema complexo há sempre uma solução rápida, simples e errada. Sob o impacto do terror que a milícia impôs ao Rio de Janeiro ao queimar 35 ônibus, alguns carros e até um trem em reação à morte de um criminoso pela polícia civil, o ministro Flávio Dino (Justiça) anunciou que "vai aumentar mais ainda as equipes federais" deslocadas para o estado. Nos bastidores, discute-se até o uso pontual das Forças Armadas.

Na crônica da segurança púbica do Rio de Janeiro, o fundo do poço é apenas mais uma etapa rumo às profundezas. O poder político no estado é emprestado. E pode retornar à bandidagem, seu legítimo dono, a qualquer momento. A fogueira da milícia carioca mostrou que Cláudio Castro convive com o pior tipo de ilusão que pode acometer um governante: a ilusão de que governa. Aos pouquinhos, o governador arrasta a gestão Lula para a fogueira.

Impotente, Castro simulou poder: "O crime organizado que não ouse desafiar o estado". Foi como se uma caricatura política, tendo fracassado na função de governador, tentasse a sorte como comediante. Castro estreou no poder fluminense como vice de Wilson Witzel, um ex-juiz que se elegeu governador surfando a onda Bolsonaro e prometendo mirar na cabecinha" dos bandidos. Caiu por corrupção.

Herdeiro da política do tiro "na cabecinha", Castro ecoa o discurso da lei e da ordem do bolsonarismo. Quando era um deputado inexpressivo, Bolsonaro homenageava milicianos. Tinha ao seu redor o ex-sargento Fabrício Queiroz e o ex-capitão Adriano da Nóbrega, que mantinha a mãe e a ex-mulher na folha da rachadinha de Flavio Bolsonaro.

Em 2018, Bolsonaro disse que "as milícias tinham plena aceitação popular, mas depois acabaram se desvirtuando. Passaram a cobrar gatonet e gás". A exemplo de Bolsonaro, o submundo da política fluminense considerava aceitável que milicianos cobrassem uns caraminguás de comerciantes para executar pivetes e representantes da arraia-miúda do tráfico.

Os traficantes sobreviveram. Hoje, alguns viram sócios da milícia, um crime que recruta mão de obra dentro da polícia. Formou-se no Rio uma coalizão das trevas que se reproduz em outros estados. Nesse contexto, reforçar os efetivos federais e da força nacional no Rio de Janeiro é como oferecer sapatos a um governador que já perdeu os pés.

Nenhum comentário: