quarta-feira, 18 de novembro de 2020

Centrão esboça pressão por reforma ministerial



Encolhido pelas urnas municipais, Jair Bolsonaro ganhará uma nova encrenca política para administrar no final do ano. Sentindo-se vitaminados, partidos do centrão colecionam argumentos para cobrar do presidente uma reforma do ministério nos primeiros meses de 2021. Alega-se que o fortalecimento dos partidos do bloco pede uma "repactuação pós-eleitoral."

Esse tipo de pressão tornou-se comum na democracia brasileira. Os presidentes se elegem sabendo que, dali a dois anos, haverá eleições com potencial para alterar a geografia partidária nos municípios e a correlação de forças em Brasília. A diferença é que Bolsonaro chegou ao Planalto chutando o centrão. Acertou-se com o grupo posteriormente. E passou a entregar cargos em conta-gotas.

Os parlamentares vislumbram problemas. Avaliam que Bolsonaro pode ser refratário às pressões. Mas sustentam que o jogo da sucessão presidencial, antecipado pelo próprio Bolsonaro, torna a reformulação do governo incontornável. Nas palavras de um "aliado" do Planalto no Senado, a reforma ministerial será cobrada pelo "bom senso", não pelos partidos.

Passado o segundo turno da disputa pelas prefeituras, as legendas vão direcionar suas engrenagens para a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado. Na sequência, começarão a se equipar para 2022, quando estarão em jogo as cadeiras do Congresso, os assentos de governadores e, sobretudo, o trono de presidente. Nesse contexto, 2020 tem para o centrão um quê de recomeço.

Sustenta-se que Bolsonaro terá de "escalar o time" com o qual pretende disputar a reeleição, prestigiando os partidos que lhe são, em teoria, mais fieis. O PP e o Republicanos, por exemplo, consideram-se sub-representados no governo. Seus dirigentes queixam-se em privado de ainda não ter obtido um ministério.

Parlamentares do PP realçam que o PSD de Gilberto Kassab, embora se defina como "independente", convive gostosamente com a presença de um deputado dos seus quadros, Fábio Faria (RN), no comando do Ministério das Comunicações.

Recorda-se que o DEM, também enrolado na bandeira da "independência", atribui exclusivamente a Bolsonaro a presença de dois dos seus filiados na Esplanada: Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Tereza Cristina (Agricultura). Havia um terceiro, mas Bolsonaro demitiu Henrique Mandetta da pasta da Saúde.

A Cidadania de Onyx e a Saúde, hoje comandada pelo general Eduardo Pazuello, são dois dos ministérios ambicionados por parlamentares do centrão. A lista inclui também o Ministério da Educação e a coordenação política do Planalto, comandados respectivamente pelo pastor Milton Ribeiro e pelo general Luiz Eduardo Ramos. Advoga-se, de resto, a recriação da pasta de Indústria e Comércio, hoje fundida ao Ministério da Economia.

Os defensores da reformulação da Esplanada argumentam que Bolsonaro deveria considerar a hipótese de se afastar da órbita de influência do DEM. Alega-se que o partido do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, está mais próximo de personagens como o governador João Doria e o apresentador Luciano Huck, potenciais adversários de Bolsonaro em 2022.

Afora a pretensão que cultiva em segredo de fazer ministros, o PP dá de barato que dispõe do apoio de Bolsonaro à candidatura do seu filiado Arthur Lira (AL) à presidência da Câmara. E cultiva como um segredo de polichinelo a pretensão de fazer ministros.

Aos pouquinhos, restaura-se sob Bolsonaro o velho e enfadonho alarido provocado pelo apetite dos partidos por nacos de poder. O movimento começa nos subterrâneos e vai subindo até chegar às manchetes. Antes do Natal despontarão no noticiário legendas pleiteando, pedindo, querendo, ameaçando.

Na teoria utilizada para envernizar as pretensões, o movimento reivindicatório é "normal". Esgrime-se a tese segunda a qual quem apoia tem o direito de participar do governo. Considerando-se o histórico de escândalos que rondam esse tipo de prática, pipocam perguntas incômodas.

Por exemplo: Que fará o partido X com o ministério Y? Gastará o dinheiro do orçamento em ações que produzam benefícios políticos para a legenda? Premiará empresas amigas? Roubará?

Para complicar, não há a mais remota segurança de que o governo conseguirá aprovar no Congresso a agenda de reformas que a equipe econômica do governo considera essencial. Não há tampouco nenhuma segurança de que os aliados de hoje se manterão leais a Bolsonaro até 2022.

Por Josias de Souza

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