Por Reinaldo Azevedo
Cada um diga o que quiser, né? Eu tenho cá algumas estranhezas com as consequências das delações premiadas. Parece-me que alguns bandidos poderão juntar a vida tranquila de agora com um passado de fausto e luxo. Refiro-me aos delatores. Ao traírem o povo brasileiro, viveram à tripa-forra. Ao traírem os próprios companheiros de crime, saíram, na prática, incólumes.
Isso quer dizer que eu sou contra a delação premiada? Não! Eu me oponho é ao excesso de liberalidade com bandido colaborador.
Como vocês já leram, o juiz Sergio Moro determinou que Paulo Roberto Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, deixasse de usar a tornozeleira eletrônica a partir desta quinta. Ele nem mesmo precisa voltar à sua casa à noite. Pode ir para onde quiser em território nacional.
Costa é o primeiro delator da Lava Jato. Foi ele quem abriu a fila. Terá de passar mais três anos fazendo serviços comunitários.
Bem, dizer o quê? Não sei a quantas andam as finanças pessoais da família Costa, mas infiro que o sr. Paulo Roberto não esteja na penúria, não é?
Foi preso no dia 17 de março de 2014, quando a operação foi deslanchada. Colaborador fiel, acabou solto, embora tenha sido condenado a 20 anos de prisão. Agora, desde que não se meta em confusão, pode viver tranquilamente.
É bom que, tudo indica, ele não precise trabalhar. Porque não vejo quem poderia contratar seus serviços. Certamente, como disse Drummond, restou um pouco daquilo tudo.
Roubando o que ele roubou, passou na cadeia, fechado para valer, apenas seis meses. Para um ladrão do seu calibre, convenham, é muito pouco. Ele tem todos os motivos para acreditar que, sob esse “regime” do MPF, que parece implacável com a corrupção, o crime compensa.
Paulo Roberto teve uma vida certamente muito boa quando ajudava a sangrar os cofres da Petrobras e seguirá com uma vida boa agora. É evidente por si mesmo que há algo nessa história que está mal encaixado.
“Ah, está contra a delação?” Não! Parece-me que um condenado a 20 anos que passa apenas seis meses na cadeia recebe um prêmio excessivo.
E, nesse caso, também há algo especioso: o mesmo Ministério Público Federal que defende que a corrupção seja crime hediondo faz acordos impressionantemente favoráveis aos delatores.
A propósito. Se o MP estiver certo e se o crime de corrupção for comparável ao homicídio doloso com agravantes, pergunta-se: também um homicida ardiloso poderia ser beneficiado por uma eventual delação?
Paulo Roberto assaltou o país e já pode andar livre, leve e solto por aí.
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