quarta-feira, 27 de março de 2024

Prisão seria um presente para Bolsonaro, tornozeleira basta



Rui Barbosa ensinou que a força do direito deve superar o direito da força. As duas noites que Bolsonaro passou na embaixada da Hungria em fevereiro, após ter o passaporte apreendido, seriam um bom pretexto para uma exibição de força de Alexandre de Moraes. Mas o ministro fortalecerá os inquéritos que conduz se evitar presentear Bolsonaro com um mandado de prisão preventiva.

Bolsonaro não é um investigado convencional. Ele denuncia o cinismo dos advogados consigo mesmo. Deixando-se flagrar pelas câmeras de segurança, exibe o que a defesa gostaria de ocultar. Dentro da embaixada, estaria legalmente fora do alcance dos rapazes da Polícia Federal. É como se soprasse uma língua de sogra na cara do Xandão.

Freud não explica. Mas Moraes deu 48 horas para os advogados de Bolsonaro tentarem explicar. Em nota, já alegaram que o capitão passou dois dias na embaixada para "manter contatos com autoridades do país amigo". Na prática, os doutores pedem ao Brasil e ao Supremo que se façam de bobos pelo bem do seu cliente. Bolsonaro não é louco. Loucos são os outros.

A prisão seria um presente porque permitiria ao mito reforçar a pose de vítima que seus devotos compram. Convém ao Supremo converter-se momentaneamente numa espécie de centro terapêutico para tratar Bolsonaro de suas loucuras.

O arsenal de Moraes não inclui camisa de força. Mas o ministro pode impor ao investigado o uso da tornozeleira eletrônica. No limite, pode adicionar ao castigo a obrigatoriedade de se apresentar uma vez por semana à Justiça. Mais adiante, quando vier a condenação, a ordem de prisão será vista não como abuso de poder, mas como cura. Encrencados como Bolsonaro não são presos, eles têm alta.

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