quarta-feira, 6 de março de 2024

PGR e ex-comandantes demolem a pose do Bolsonaro perseguido


O ex-presidente Jair Bolsonaro em ato a apoiadores na avenida Paulista

Desde que foi declarado inelegível pelo Tribunal Superior Eleitoral, Bolsonaro desfila pela conjuntura uma pose de vítima de perseguição política. Enfeitou o figurino com os inquéritos criminais que responde no Supremo Tribunal Federal.

Nessa versão, uma Polícia Federal submetida aos interesses de Lula atuaria em conluio com o ministro da Suprema Corte Alexandre de Moraes para construir um enredo ficcional que transforma um ex-presidente exemplar em golpista. Não está dando certo.

A delação de Mauro Cid, um ex-ajudante de ordens que Bolsonaro dizia considerar como "um filho", já havia fragilizado o papel de vítima. O endosso do procurador-geral Paulo Gonet às operações da PF enfraqueceu ainda mais o roteiro da perseguição.

Embora tenha sido indicado por Lula, o substituto de Augusto Aras foi aprovado no Senado com o aval da bancada bolsonarista. No dia da aprovação, havia em plenário 77 senadores. Graças ao endosso dos bolsonaristas, Gonet obteve 65 votos —ou 84,4% dos presentes.

Os depoimentos prestados no inquérito sobre o golpe pelo general Freire Gomes e pelo brigadeiro Baptista Júnior arrancaram de vez o manto de proscrito perseguido que Bolsonaro tentava acomodar sobre seus ombros.

Ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica, respectivamente, o general e o brigadeiro integravam aquilo que o capitão chamava de "minhas Forças Armadas". Ambos confirmaram à PF ter participado da reunião em que Bolsonaro expôs a chamada minuta do golpe.

Referindo-se ao depoimento de Freire Gomes, considerado pelos investigadores o mais devastador contra Bolsonaro, um ministro do Supremo disse que se trata de documento "melhor e mais valioso do que uma delação, porque contém revelações de uma testemunha, não de um criminoso à procura de benefício judicial."

Estima-se que a PF indiciará Bolsonaro pela tentativa de golpe até julho. Dá-se de barato que Gonet encaminhará ao Supremo uma denúncia. A delação, os depoimentos que a corroboram e as provas adicionais reunidas no inquérito derrubam a tese segundo a qual o investigado é vítima de uma conspiração da lei das probabilidades contra um inocente.

A denúncia será convertida em ação penal. Bolsonaro e seus cúmplices terão, então, a oportunidade esgrimir o contraditório que se abstiveram de exercer ao silenciar em seus interrogatórios à PF. Cristalizou-se no Supremo a percepção de que a condenação tornou-se incontornável.

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