sexta-feira, 8 de março de 2024

Feminicídio pede criação do Dia Nacional da Vergonha na Cara



O Dia Internacional da Mulher deveria ser rebatizado no Brasil. A contabilização de 10.655 feminicídios nos últimos nove anos transforma o país num local ideal no mapa para o surgimento de algo radicalmente diferente. Indignidade não falta. Um bom começo seria rebatizar a efeméride mundial de Dia Nacional da Vergonha na Cara.

A nova data ainda não foi incorporada ao calendário nacional porque o Brasil não tem vergonha na cara. Se tivesse, já teria notado que um cenário em que tantos seres humanos são mortos apenas porque os assassinos desprezam ou discriminam a condição feminina não será revertido com lero-lero e medidas paliativas.

O professor Marcos Ribeiro, autor de um livro que todos os pais deveriam ler —"Você conversa com seu filho sobre sexo?"— disse tudo num artigo publicado no Globo há três dias. "A educação sexista é a base para que os meninos cresçam achando que têm mais direitos que a mulher e poder sobre o seu corpo", escreveu.

Até outro dia, presidia o Brasil um sujeito que se referia à concepção da filha caçula como "uma fraquejada". Chefiava o Ministério da Mulher uma pastora que difundia a tese segundo a qual "menino veste azul e menina veste rosa." São baboseiras da mesma categoria de "engole o choro, porque homem não chora."

A contemporização com esse tipo de pregação formou e, sobretudo, deformou gerações de machos que supõem ser natural a submissão da mulher em todos os ambientes —do lar ao trabalho. Contra essa gente, não resta senão impor os rigores da lei. Mas ainda é possível livrar futuros adultos da virilidade tóxica. O trabalho é árduo. Envolve a família e a escola. Noutros países, a educação anti-machista é parte do currículo.

Há mais de um século, o historiador Capistrano de Abreu propôs uma Constituição sucinta para o Brasil. Teria dois artigos: 1º) Todo brasileiro deve ter vergonha na cara. 2º) Revogam-se as disposições em contrário." Se essa constituição estivesse em vigor, hoje talvez fosse celebrado o Dia da Vergonha na Cara.

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