quarta-feira, 20 de março de 2024

Bolsonaro agora terá que incluir Gonet no rol dos 'perseguidores'



Com a velocidade de um raio, Alexandre de Moraes imprimiu o seu ritmo ao caso da falsificação de cartões de vacina. O relatório em que a Polícia Federal promove o indiciamento de Bolsonaro e outras 15 pessoas chegou ao Supremo Tribunal Federal na segunda-feira. Nesta terça, Moraes levantou o sigilo das 231 páginas, encaminhou a peça ao Ministério Público e fixou um prazo de 15 dias para que o procurador-geral da República Paulo Gonet se manifeste.

Avalia-se no Supremo que Bolsonaro logo sentirá uma saudade imensa do antiprocurador-geral Augusto Aras e de sua equipe. No ano passado, a então vice-procuradora-geral Lindôra Araújo, braço direito de Aras, enviou ao Supremo manifestação contra uma batida de busca e apreensão na casa de Bolsonaro. Alegou que não havia prova da participação do capitão na inserção de dados falsos no sistema do Ministério da Saúde. Alexandre de Moraes deu de ombros.

No despacho em que mandou prender preventivamente Mauro Cid e enviou os rapazes da PF à casa de Bolsonaro, Moraes anotou que era, já àquela altura, "plausível, lógica e robusta a linha investigativa" da PF. Considerou que nada indicava que o ex-ajudante de ordens tivesse comandado a falsificação de cartões de vacina, inclusive de Bolsonaro e de sua filha caçula, sem o "conhecimento e aquiescência" do chefe. Desde então, Cid tornou-se delator e tudo o que já estava na cara foi corroborado por provas adicionais recolhidas pela PF.

Bolsonaro diz que não cometeu nenhum crime. Afirma estar limpo no caso das vacinas fakes, na encrenca das joias sauditas e na tentativa de golpe de Estado. Ficou difícil, porém, sustentar a tese segundo a qual Xandão persegue um ex-presidente de mostruário. Seria necessário atribuir tudo a um complô do delator Cid com os agentes da PF, combinados com o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior, todos mancomunados com as dezenas de mensagens e áudios vadios extraídos dos fundões de celulares e computadores.

Avalia-se no Supremo que o indiciamento da PF no caso das vacinas falsas será convertido na primeira denúncia formal do sucessor de Augusto Aras contra Bolsonaro. Ou seja: em duas semanas, o capitão terá que incluir no seu rol de conspiradores Paulo Gonet, cuja indicação para a chefia da Procuradoria foi aprovada no Senado com o apoio da bancada bolsonarista

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