terça-feira, 4 de outubro de 2022

Urnas, manipuladas por KKK e Chucky, são esquecidas; pesquisas viram alvos



Acabou a conversa sobre a urna eletrônica. Alguns reaças da xepa bolsonarista que não foram eleitos ainda tentam reclamar, mas seus colegas não lhes dão nem voto nem bola. Pudera! Houvesse um chip ou alguma outra tramoia comunista para interferir no resultado das urnas, seria o caso de demitir o incompetente. Eu até cheguei a suspeitar, dados os eleitos, da invasão das urnas por um misto de Gengis Khan, Ku Klux Klan e Chucky, o boneco assassino, mas lembrei depois que o sistema é inexpugnável. A palavra de ordem agora é comer o fígado dos responsáveis por institutos de pesquisa. Já engajaram os trouxas na questão das urnas. Agora têm causa nova e urgente. Combater os grandes capitalistas comuno-globalista, bem, essa pauta é eterna.

"Protesto", berra a tia do Zap com aquele cabelo "amarelo golpista", ou o tiozão com uma rodela de pizza no sovaco, esbanjando sabedoria alternativa. "Encheram a Câmara e o Senado dos nossos só para que os globalistas possam roubar a eleição do capitão." Sem dúvida! Pertencer a uma organização como essa deve ser uma glória, não é? Ela conseguiria até vencer as milícias da Zona Oeste do Rio. Se é que entendem...

VAI DAR RUIM
Conspiração? Olhem para o número, na Câmara e no Senado, de votos de severas nulidades, de reacionários babões, de divulgadores de "fake news". O PL de Valdemar Costa Neto elegeu 90 deputados e vai ficar com 13 senadores. Alguns não têm biografia, mas folha corrida. Bolsonaro ganhe ou perca, a única coisa boa sobre esses parlamentares é saber que, como diz o povo, "vai dar ruim" . Há, sim Orçamento Secreto para toda essa escumalha moral e bem votada, mas aprendi que o excesso de ambição não costuma ter pensamento estratégico. Até os psicopatas erram às vezes. Imaginem os que se locupletam, sem conter seus apetites. Se Bolsonaro vencer, ele e seus reaças vão trombar com Valdemar. Se perder, é Valdemar quem vai trombar com os extremistas.

Mas não deixa de ser notável que alguns eleitores que se mostrem militantes fanáticos contra a corrupção e resolvam se ligar a esse arco de poder. No comando do PL, Valdemar. No comando o PP, Arthur Lira e Ciro Nogueira. Na Presidência, esperam, Jair Bolsonaro. Se vivo, Plutarco escreveria um novo volume de "As Vida dos Homens e Mulheres Ilustres". Ontem, a propósito, para surpresa de ninguém, Sergio Moro (UB), senador eleito, e Deltan Dallagnol (Podemos) — vocês sabem quem são — anunciaram apoio a Bolsonaro. O ciclo se fecha. Ele já era o candidato da Lava Jato em 2018. Deltan, diga-se, afirmou que, com a eleição da dupla — mais Rosangela Moro (UB) em São Paulo —, a operação renasce, "como Fênix". Rastejam para Bolsonaro. Ainda acabarão sendo atendidos, claro! Nas redes sociais, Moro publicou um vídeo, vocês devem ter visto, em que ele recebe um aliado com o que seria uma faixa presidencial no peito. Fala por si.

BOLSONARO NUNCA DESCONFIOU DAS URNAS
Volto ao ponto depois de me divertir um pouco. Uma impressionante onda reacionário-bolsonarista no Sudeste e no DF, detectadas por institutos, mas não na dimensão vista, lotou o Congresso do bolsonarismo barra-pesada, elegeu, por exemplo, Cláudio Castro (RJ) no primeiro turno e deu a Tarcísio de Freitas o primeiro lugar na disputa pelo governo de São Paulo. Como nem eles próprios esperavam a avalanche e como os números das urnas vieram mais rechonchudos do que apontavam até seus pesquiseiros a soldo, nada havia a dizer. Já imaginaram, na linha do absurdo, se um questionamento levasse à anulação das eleições? Seria difícil fazer outra como essa. Agora não é preciso questionar mais nada. E, de fato, nunca foi.

Bolsonaro jamais acreditou de verdade nas bobagens que dizia sobre urnas eletrônicas. Fico cá a imaginar o "patriarca" e seu gabinete do ódio a mangar dos tolos que caíam na conversa. Essa era uma das pautas que serviam para manter unida a tropa. Também vale para a questão dos costumes. Os Bolsonaros não são, exatamente, uma família a encarnar a ortodoxia conservadora. De nenhum tipo. Mas esse é outro "botão quente" acionado para manter seus fiéis. Não pensem que essa gente só bate bafo com Steve Bannon, o delinquente que se quer teórico da revolução ileberal-reacionária. Se notarem, a direita civilizada — e isso existe, ainda que alguns amigos de esquerda contestem — cabe num Fusca. O resto é esse lixão ideológico que se vê, recheado de xingamentos e insultos. E agora vai todo mundo chafurdar no Orçamento Secreto.

Conseguiram, sim, mobilizar uma soma formidável de pessoas na base da mentira e da difamação das instituições e acabaram dando expressão política a mentiras escandalosas. No Sudeste, isso se casa com os interesses de alguns líderes ditos religiosos, que estão, não obstante, muito focados em obter poderes terrenos. E há, claro!, o reacionarismo à antiga. Na falta de um padrão mais civilizado, servem esses desclassificados mesmo.

PESQUISAS AJUDARAM
Agora, os valentes querem emparedar as pesquisas. Não fosse a proposta essencialmente obscurantista e não maculasse o direito que têm o instituo de fazer o levantamento e a população de ser informada, eu talvez aplaudisse, movido por puro pragmatismo. Mas tenho vergonha na cara.

É mentira que as pesquisas orientem o voto no sentido da "estampagem", vale dizer: "Se Fulano está na frente, então voto nele". Podem até interferir, mas de outra maneira, acho eu. Uma pergunta à queima-roupa: não fossem os "erros" ou as dificuldades para detectar a tempo o avanço do bolsonarismo no Sudeste, será que a onda não teria sido menor? Mais ainda: se o antibolsonarismo não lulista tivesse clareza dessa ascensão, não teria feito voto útil?

É provável que a não detecção da onda no volume em que veio mais tenha ajudado do que prejudicado o bolsonarismo. É evidente que houve voto útil entre eleitores críticos a Bolsonaro, mas que se negavam a votar em Lula. E é possível que eventuais antibolsonaristas convictos não tenham visto a necessidade de dar o recado já no primeiro turno, não sabedores do que ocorria. Obviamente, as pesquisas não respondem pela avalanche de extrema direita, mas podem ter, sim, ter tido alguma influência para que não se conquistasse aquele 1,57 ponto percentual que faltou a Lula para vencer no primeiro turno. De toda sorte, são conjecturas, não mais do que isso. O que não faz sentido é a censura. Mas eles precisam de uma causa para substituir as urnas eletrônicas.

Só isso? Não. Bolsonaro deu a pista no dia da eleição falando ao "cercadinho": caso obtenha mais um mandato, o objetivo é emparedar o STF. Enquanto houver um Poder Judiciário com a independência possível, seus propósitos — aquele Brasil que tem em mente — são impossíveis. O Congresso, ele compra. O Supremo, ele atropela.

Meras questões de fato.

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