Intimada a depor no processo sobre a suspeita de ‘compra’ de medida provisória por lobistas a serviço de empresas automotivas, Dilma Rousseff está condenada a repetir o bordão imortalizado por Lula: “Eu não sabia”. Fora disso, poderia negar categoricamente o crime ou associar-se às suspeitas. Numa hipótese, correria o risco de ser desmentida pelas investigações. Noutra, deixaria em má situação o padrinho Lula, em cuja gestão as medidas provisórias teriam descido ao balcão.
Deve-se a decisão de ouvir Dilma ao juiz da 10ª Vara Federal de Brasília, Vallisney de Souza Oliveira. A presidente foi arrolada, junto com outros políticos, como testemunha de defesa de um dos acusados de ‘comprar’ medida provisória, o empresário Eduardo Valadão, ex-sócio de um escritório de lobby de Brasília. Lula também terá de depor. O filho dele, Luís Cláudio Lula da Silva, é investigado no caso. Recebeu R$ 2,5 milhões de outro lobista sob suspeição.
Dilma era chefe da Casa Civil quando foi editada a medida provisória supostamente comercializada. Trata de benefícios fiscais a empresas do setor automotivo. O documento passou por suas mãos a caminho do Congresso. Fez nova escala em sua mesa na volta do Legislativo, antes da sanção de Lula. Daí o interesse em ouvi-la, para arrancar dela a declaração de que nada sucedeu fora da normalidade.
Cada vez que Dilma é forçada pelas circunstâncias a mimetizar o antecessor, repisando a tecla do “eu não sabia”, ela se torna uma paródia grotesca da gestora de mostruário que Lula vendeu ao eleitorado na sucessão de 2010. A supergerente deu lugar à inépcia. Em vez de eficiência, suspeição.
Da fábula petista só resta o discurso da honestidade pessoal dos presidentes, reiterado por Lula em entrevista a blogueiros nesta quarta-feira: “Se tem uma coisa de que me orgulho é que não tem nesse país uma viva alma mais honesta do que eu.” Considerando-se a sucessão de escândalos, pode-se concluir que a virtude também é ficcional. Ou perdeu sua função.
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